segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

#OscarsSoWhite

    Indicados ao Oscar nas categorias de atuação deste ano. 

  Pelo segundo ano consecutivo, os 20 atores indicados ao Oscar são todos brancos, também igual ao ano passado, a tag #OscarsSoWhite ("Oscar tão branco") se tornou tópico de debate, originando a variante #OscarsStillSoWhite ("Oscar ainda tão branco") também. 
  A atriz Jada Pinkett-Smith iniciou um coro de boicote e aí a indústria se dividiu entre os que saíram em defesa do boicote e os que se calaram ou se manifestaram contra. Will Smith, marido de Jada, alegou que não irá a cerimônia este ano, Spike Lee, diretor que inclusive foi homenageado pela Academia em novembro do ano passado também disse que não comparecerá à entrega das premiações e escreveu um texto na sua conta do Instagram explicando a sua decisão. 
 
    O diretor Spike Lee e a atriz Jada Pinkett-Smith
  Apesar da maioria dos famosos do mundo do cinema aderirem à campanha ou concordarem com a demanda por mais diversidade em Hollywood, houve quem pisasse na bola argumentando contra as reivindicações. A veterana Charlotte Rampling, indicada este ano pelo filme "45 anos", disse que as reclamações em relações as indicações all-white eram "racistas aos brancos" (sugerindo um conceito de racismo reverso que nós todos sabemos muito bem que não existe) e sugerindo que nenhum ator negro foi bom o suficiente para integrar a lista de indicados este ano.
  Para aumentar a tensão na Academia, a presidente é uma mulher negra, e o apresentador da cerimônia este ano é o comediante negro Chris Rock. Ou seja, é de se esperar alguma menção a esta polêmica toda na própria cerimônia (o que também aconteceu ano passada no monólogo de abertura de Neil Patrick Harris). 

    O comediante Chris Rock

  Para começarmos a dissecar esta problemática, é preciso comentar quem é a Academia, em pesquisa do ano passado foi comprovado que a maioria dos membros é homem, branco e acima de 60 anos. Isso diz muito sobre quem é escolhido para ser premiado. Histórias de superação com personagens negros como "Creed" e "Straight Outta Compton" não comove esses espectadores, um drama sobre guerra civil na África como "Beasts of No Nation" também não os interessa. Os filmes que os interessam são os filmes sobre as histórias de pessoas brancas, porque são as histórias deles, e é exatamente por esta razão que as minorias, os negros em especial, se enfurece com a falta de representação das suas histórias.
  Aí chegamos ao cerne da questão, a falta de representatividade. Como este blog é sobre cinema, vou me ater à falta de representatividade no meio cinematográfico, aproveitando a discussão calorosa das últimas semanas, mas é bem sabido que esta conversa poderia ser a respeito de vários outros meios. Além da falta de diversidade racial, a falta da presença de mulheres nos filmes ainda é notável, ano passado, nenhum dos filmes indicados à categoria de melhor filme tinha uma mulher como personagem principal, provando que na maioria das produções as mulheres ainda assumem papéis de personagens coadjuvantes.  
  A conclusão para este problema generalizado é a mesma para o problema específico do Oscar, as pessoas em posição de poder nos grandes estúdios são todos homens brancos. Então fica a pergunta, onde estão as produtoras e diretoras mulheres e os produtores e diretores não brancos? Você pode argumentar que não mereceram, como Rampling, mas se você acredita que nenhuma mulher ou pessoa negra foi capaz de ser indicado ao Oscar este ano ou alçar a uma posição de poder nos estúdios, ou em qualquer outro ramo, no fundo, a ideia que se passa é que as mulheres e os não brancos são menos capazes por natureza, o que além de não ser verdade, não é a resposta do problema. Esta seria pauta para um novo texto, mas eu já adianto que é a falta de uma palavra que começa com "o". 


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Principais apostas.

  Nesta época do ano, o mundo do cinema está totalmente voltado à eminente cerimônia do Oscar, que este ano acontecerá no dia 28 de fevereiro, e seus principais candidatos. Já pude conferir alguns deles e este post será seu guia para o Oscar 2016!

Spotlight


  Spotlight é um drama sobre jornalismo investigativo que retrata o caso da reportagem do Boston Globe que deflagrou casos de abuso infantil na Igreja Católica. O filme é dirigido por Tom McCarthy e tem elenco de peso, com Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber, Stanley Tucci e John Slattery. O filme não possui artifícios narrativos muito originais, mas conta com qualidade uma história chocante que se torna marcante pelo seu bom roteiro e boas atuações, com destaque a de Mark Ruffalo. A fala de seu personagem, Mike Rezendes, que aparece exaustivamente nas premiações, "poderia ter sido você, poderia ter sido eu, poderia ter sido qualquer um de nós", parecia para mim, antes de ver o filme, um artifício dramático forçado, mas ela aparece no momento ideal da narrativa e resume bem os sentimentos de indignação dos personagens, que também são despertados no espectador, em reação a este caso horripilante de nossa história moderna.

A Grande Aposta


  Este é outro filme que te deixa chocado com um absurdo acontecido nos últimos anos. Um grupo de investidores percebe, no ano de 2005, que haverá uma bolha no mercado imobiliário, assim eles apostam contra os bancos, já prevendo a futura falência dos mesmos. Para alguns, a história pode ser difícil de acompanhar devido à linguagem técnica usada, mas se você se lembrar da crise americana de 2008, você já consegue se nortear, além das participações de celebridades explicando os termos mais técnicos, que foi uma ótima estratégia. Também tem um elenco forte, com Christian Bale, Steve Carrel, Ryan Gosling e Brad Pitt. A atuação de Christian Bale como um médico não praticante que trabalha descalço ouvindo trash metal e possui um olho só se destaca entre um grupo de personagens inusitados. O trunfo do filme é conseguir tornar engraçado e dinâmico um tema tão sem graça, mas sendo sério quando precisa, afinal, ele fala de uma crise que afetou a vida de milhares de pessoas, a cena no final em que os personagens que trabalham para Mark Baum (Steve Carrel) estão sentados em uma escadaria observando várias pessoas que perderam seus empregos vagarem em seu caminho de volta para casa trás complexidade a esses personagens que viram tanta desgraça sentados em suas pilhas de dinheiro.

O Regresso 


  Depois do sucesso de Birdman, Alejandro G. Iñárritu, lança O Regresso, épico estrelado por Leonardo DiCaprio, Tom Hardy e Domhnall Gleeson que também conta uma história verídica, sobre Hugh Glass, um homem que estava em uma expedição para conseguir peles de animais e é atacado por um urso e deixado para morrer pelos seus colegas. O melhor adjetivo para descrever este filme é "intenso", é um filme sobre sobrevivência, a atuação de Leonardo DiCaprio brilha por seu personagem ser colocado nas situações mais desafiadoras, como entrar na carcaça de um cavalo e comer carne crua (o que, aparentemente, ele fez na vida real!). Além de que, segundo os relatos dos atores, foi muito difícil fazer o filme devido a condições externas, como clima e locação, que teve de ser trocada do Canadá para a Argentina, o que também causou um atraso nas filmagens. Tom Hardy também entrega um personagem frio e oportunista com qualidade e a fotografia do filme é belíssima, já sendo a principal candidata desta e das outras categorias técnicas do Oscar.
 
A Garota Dinamarquesa 


  O drama de época de Tom Hooper (O Discurso do Rei, Os Miseráveis) conta a, mais uma, história verídica de Lili Elbe, artista dinamarquesa que foi a primeira transexual da história. Interpretada por Eddie Redmayne, o elenco também conta com Alicia Vikander interpretando a esposa de Lili, Amber Heard, Matthias Schonaerts e Ben Whishaw. O filme se destaca pela sensibilidade ao lidar com um tema tão atual, a atuação de Eddie Redmayne é muito comovente, sendo capaz de transmitir a angústia e animação de sua personagem face uma descoberta que mudaria sua vida para sempre. A atuação de Alicia Vikander também é fundamental para fazer o filme funcionar, pois além do drama pessoal de Lili, sua relação com a sua esposa e o que ela passa devido às mudanças que seu marido sofre também são temas da trama, fazendo o filme tratar também sobre o amor entre estas duas personagens,  que deixa de ser um amor sexual, mas não deixa de existir. 

Mad Max: Estrada da Fúria


  Um filme que estreiou antes da temporada do Oscar, em maio de 2015, no Festival de Cannes (onde foi ovacionado) chegou forte no Oscar. A sequência da trilogia da década de 80 dirigida por George Miller ganhou um capítulo emocionante. Um filme com cenas de ação incríveis, que não negligencia seus personagens, nos presenteando com a maravilhosa Imperatriz Furiosa, interpretada com maestria por Charlize Theron. Tom Hardy assume o lugar de Mel Gibson interpretando Max Rockatansky em uma trama bem construída, apesar dos poucos diálogos, que ainda foi elogiada pelas personagens femininas empoderadoras, algo que não se vê sempre da indústria do cinema.