Pelo segundo ano consecutivo, os 20 atores indicados ao Oscar são todos brancos, também igual ao ano passado, a tag #OscarsSoWhite ("Oscar tão branco") se tornou tópico de debate, originando a variante #OscarsStillSoWhite ("Oscar ainda tão branco") também.
A atriz Jada Pinkett-Smith iniciou um coro de boicote e aí a indústria se dividiu entre os que saíram em defesa do boicote e os que se calaram ou se manifestaram contra. Will Smith, marido de Jada, alegou que não irá a cerimônia este ano, Spike Lee, diretor que inclusive foi homenageado pela Academia em novembro do ano passado também disse que não comparecerá à entrega das premiações e escreveu um texto na sua conta do Instagram explicando a sua decisão.
O diretor Spike Lee e a atriz Jada Pinkett-Smith
Apesar da maioria dos famosos do mundo do cinema aderirem à campanha ou concordarem com a demanda por mais diversidade em Hollywood, houve quem pisasse na bola argumentando contra as reivindicações. A veterana Charlotte Rampling, indicada este ano pelo filme "45 anos", disse que as reclamações em relações as indicações all-white eram "racistas aos brancos" (sugerindo um conceito de racismo reverso que nós todos sabemos muito bem que não existe) e sugerindo que nenhum ator negro foi bom o suficiente para integrar a lista de indicados este ano.
Para aumentar a tensão na Academia, a presidente é uma mulher negra, e o apresentador da cerimônia este ano é o comediante negro Chris Rock. Ou seja, é de se esperar alguma menção a esta polêmica toda na própria cerimônia (o que também aconteceu ano passada no monólogo de abertura de Neil Patrick Harris).
Para começarmos a dissecar esta problemática, é preciso comentar quem é a Academia, em pesquisa do ano passado foi comprovado que a maioria dos membros é homem, branco e acima de 60 anos. Isso diz muito sobre quem é escolhido para ser premiado. Histórias de superação com personagens negros como "Creed" e "Straight Outta Compton" não comove esses espectadores, um drama sobre guerra civil na África como "Beasts of No Nation" também não os interessa. Os filmes que os interessam são os filmes sobre as histórias de pessoas brancas, porque são as histórias deles, e é exatamente por esta razão que as minorias, os negros em especial, se enfurece com a falta de representação das suas histórias.
Aí chegamos ao cerne da questão, a falta de representatividade. Como este blog é sobre cinema, vou me ater à falta de representatividade no meio cinematográfico, aproveitando a discussão calorosa das últimas semanas, mas é bem sabido que esta conversa poderia ser a respeito de vários outros meios. Além da falta de diversidade racial, a falta da presença de mulheres nos filmes ainda é notável, ano passado, nenhum dos filmes indicados à categoria de melhor filme tinha uma mulher como personagem principal, provando que na maioria das produções as mulheres ainda assumem papéis de personagens coadjuvantes.
A conclusão para este problema generalizado é a mesma para o problema específico do Oscar, as pessoas em posição de poder nos grandes estúdios são todos homens brancos. Então fica a pergunta, onde estão as produtoras e diretoras mulheres e os produtores e diretores não brancos? Você pode argumentar que não mereceram, como Rampling, mas se você acredita que nenhuma mulher ou pessoa negra foi capaz de ser indicado ao Oscar este ano ou alçar a uma posição de poder nos estúdios, ou em qualquer outro ramo, no fundo, a ideia que se passa é que as mulheres e os não brancos são menos capazes por natureza, o que além de não ser verdade, não é a resposta do problema. Esta seria pauta para um novo texto, mas eu já adianto que é a falta de uma palavra que começa com "o".