quarta-feira, 21 de setembro de 2016

"Sicário" de Denis Villeneuve


  O nome do diretor canadense Denis Villeneuve pode ainda não soar muito familiar, mas seu trabalho tem se destacado nos últimos anos com os ótimos "Polytechnique", "Incêndios", "Os Suspeitos", "O Homem Duplicado" e o filme tema deste texto, "Sicário - Terra de ninguém". A carreira de Villeneuve ganhou destaque internacional com "Incêndios", muito premiado mundo a fora, possibilitando que os seus projetos seguintes atingissem um público mais abrangedor. Um dos seus filmes mais bem-sucedidos nessa nova fase é "Sicário", lançado ano passado no Festival de Cannes e no final do ano, aqui no Brasil, em poucas salas.
  Estrelado por Emily Blunt, Josh Brolin e Benicio Del Toro, o filme narra a procura pelo chefe de um grande cartel de drogas do México por uma força-tarefa supervisionada pela CIA. A personagem principal, interpretada por Blunt, é indicada para fazer parte deste grupo; porém, as táticas dos seus novos colegas de trabalho a deixam inquieta.


  Não é um típico filme de guerra contra as drogas, pois muito se foca no trabalho dos policiais e na personagem de Blunt, Kate Macer, uma agente do FBI com um histórico exemplar; ela é determinada em atingir suas metas e obedece a todas as regras da profissão. O que se choca com o jeito desleixado de Matt Graver (Brolin) e do misterioso Alejandro Gillick (Del Toro). Na primeira cena em que Macer vê Graver, ela percebe os chinelos nos pés dele em contradição aos homens de terno da mesma sala, durante uma reunião. Um pequeno detalhe, mas um que passa muita informação ao espectador sobre quem são esses personagens e como vai ser a interação entre eles. Gillick, entretanto, provoca Macer por ela simplesmente não saber para quem ele trabalha e porque está lá; apesar dos seus constantes questionamentos sobre este e outros detalhes estranhos da operação, Macer nunca recebe a explicação certa sobre o que está sendo feito, tendo que descobrir tudo sozinha.


  Essas dúvidas causam uma grande tensão, pois nem a personagem principal nem o espectador tem ideia do que acontecerá em seguida. No primeiro dia da agente, ela é levada ao México, lugar onde ela não sabia que iria, e esta primeira viagem já proporciona uma das cenas mais marcantes do filme. Em um engarrafamento, o esquadrão percebe estar rodeado por sicários- algo como um assassino de aluguel- do cartel, o que gera um tiroteio no meio trânsito. Os momentos antes do tiroteio começar trazem um nervosismo ao filme, apesar dos personagens simplesmente estarem parados em um engarrafamento; um trunfo da direção de Villeneuve. Essa enorme tensão retornará no clímax do filme, seguido por um desfecho surpreendente.
  Todos os atores do filme entregam ótimas atuações, até Jon Bernthal, que faz uma pequena participação. Mas o grande destaque é a atuação de Blunt; com o seu rosto expressivo, ela transmite com muita eficiência quem é a sua personagem e as razões de suas ações. Além do mais, Kate Macer é o tipo de personagem feminina que faz falta na maioria dos filmes, uma mulher em uma profissão tradicionalmente masculina, que se destaca pelo seu trabalho, não é vaidosa- ela passo grande parte do filme usando as mesmas roupas- e se importa muito com a sua profissão. Mesmo assim, ela não é masculinizada, essas características não ficam forçadas em sua personalidade como se não pudesse ser natural para uma mulher ser todas essas coisas. O filme mostra ser possível uma mulher ser forte, obstinada e não ter características "femininas", sem que isso a torne máscula.


  Além disso, a fotografia do filme se destaca bastante, o cenário desértico das locações no México e nos estados americanos vizinhos é muito bonito. As cores quentes funcionam bem, intercaladas por tons de azul nas cenas em que o sol está se pondo. O responsável por este belo trabalho é Roger Deakins, que também trabalhou na fotografia de "Onde os fracos não tem vez", "O Leitor" e "007- Skyfall". E a fotografia não é o único elemento técnico marcante, a trilha sonora composta por Jóhann Jóhannsson é muito intensa, sendo a música responsável por trazer grande parte da tensão do filme.



  "Sicário- Terra de ninguém" é um filme com uma pegada mais artística, mas com temas e cenas de ação de produções mais mainstream, e que como todo bom filme, tem uma boa história sendo bem executada. Um grande trabalho de Denis Villeneuve, um nome para se prestar atenção de agora em diante.



  

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Winona Ryder, o ícone dos anos 90 está de volta.



  No hit recente do Netflix, "Stranger Things", é difícil não se surpreender com a atuação de Winona Ryder, uma atriz que dificilmente não será reconhecida por pelo menos um de seus trabalhos anteriores. Você pode se lembrar dela como a garota loira dançando na neve em "Edward Mãos de Tesoura", a adolescente gótica em "Os Fantasmas se Divertem" ou uma jovem com um distúrbio mental em "Garota, Interrompida", além de uma variedade de outros papéis em filmes de sucesso, tendo se tornado uma das atrizes mais populares e proliferas da década de 90.
  Winona nasceu em uma família intelectual e alternativa, morando por alguns anos de sua infância em uma comunidade hippie. Pelos seus pais, ela teve contato com grandes filmes do cinema antigo e em sua adolescência se tornou fã do escritor J. D. Sallinger, em especial de sua obra "O Apanhador no Campo de Centeio". Ryder demonstrou interesse por atuação ainda adolescente e conseguiu seu primeiro papel em um filme no ano de 1985, aos 14 anos. Três anos depois, Winona apareceria em dois filmes que ganhariam popularidade; "Os Fantasmas se Divertem", seu primeiro filme sob a direção de Tim Burton, um sucesso de crítica e de público na época- no qual ela interpreta uma adolescente que se torna amiga dos fantasmas da casa aonde sua família se muda, e "Atração Mortal", uma comédia satírica que não obteve muito sucesso nas bilheteria apesar de uma boa recepção dos críticos, se tornando um clássico cult depois.

                                Em "Os Fantasmas se Divertem".

  Na virada da década, Winona conseguiria papéis que a alçariam ao status de estrela. Se reunindo com Tim Burton para o grande sucesso "Edward Mãos de Tesoura", onde ela contracena com seu então namorado, Johnny Depp (eles formaram um dos casais mais famosos do começo dos anos 90); no mesmo ano, a jovem atriz consegue o papel de Mary Corleone em "O Poderoso Chefão, parte III", mas acaba tendo que abdicar do papel devido a exaustão. Em 1992, ela teria novamente a oportunidade de trabalhar com Francis Ford Coppola e desta vez com sucesso em uma adaptação de "Drácula" de Bram Stoker; no ano seguinte, ela aparece em "A Época da Inocência", trabalhando mais uma vez com um diretor de peso, Martin Scorsese, em uma atuação que lhe renderia sua primeira indicação ao Oscar. Continuando a adicionar mais e mais títulos ao seu currículo em meados dos anos 90, ela recebe sua segunda indicação ao Oscar pela adaptação do clássico "Adoráveis Mulheres" e estrela o filme sobre a Geração X dirigido por Ben Stiller "Caindo na Real".

                                Em "Edward Mãos de Tesoura".

                                                    Em "A Época da Inocência".

  No entanto, a partir de então a produtividade de Winona continua, mas os sucessos não. Ela aparece em uma adaptação da peça de Arthur Miller "As Bruxas de Salém", em que sua performance é elogiada mas não evita o filme de ser uma decepção nas bilheterias, um filme da trilogia "Alien" que recebe boas críticas e faz boa arrecadação apesar de ter sido o menos bem-sucedido da trilogia e um filme de Woody Allen chamado "Celebridades", apreciado, mas como muitos outros títulos do diretor, não alcança popularidade. Então, surge o projeto que daria no filme "Garota, Interrompida"- um dos filmes mais marcantes da carreira de Winona que contou com seu apoio para se tornar realidade devido ao desejo dela de fazer o filme. Mesmo com o novo sucesso, as expectativas da atriz de voltar a protagonizar um grande filme são frustradas devido ao sucesso que Angelina Jolie, até então pouco conhecida, ganhou com o filme, ofuscando a atuação de Ryder.

                                 Em "Garota, Interrompida".

  Com a chegada dos anos 2000, as coisas não melhoram para Winona. Em 2001, Winona é presa por roubar roupas da loja de departamento Saks Fifth Avenue, ela foi sentenciada a pagar multas, uma indenização à loja e cumprir 480 horas de serviço comunitário. Sobre o incidente, Winona comentou que ela estava passando por um período de forte depressão, doença que ela sofreu por grande parte da sua vida, e analgésicos receitados por um médico charlatão afetaram sua capacidade de julgamento. Em seguida, a atriz começa um hiatus que duraria cinco anos, do qual ela voltou conseguindo alguns trabalhos, porém nada expressivo até começa seu verdadeiro "retorno" em 2010.
  Neste ano, ela aparece em papéis menores em "Star Trek" e "Cisne Negro", em 2012 ela empresta sua voz trabalhando novamente com Tim Burton em "Frankenweenie" e estrela o vídeo da banda "The Killers" para a música "Here With Me" também dirigido por Tim Burton. Porém, seria na TV onde Winona colocaria seu nome de volta no mapa, após um papel coadjuvante na minissérie da HBO "Show Me a Hero", a série original do Netflix "Stranger Things" colocou o nome de Winona nos holofotes de novo. A série de expressivo sucesso e ótima qualidade proporcionou a Winona um grande papel- digno de uma atuação de excelência que ela consegue entregar, mostrando o talento que tinha ficado escondido por tantos anos. 

                                                 Em foto do início da década de 90.

  Winona tem sido uma atriz que além de conseguir produzir trabalhos marcantes, sempre manteve um padrão alto em suas performances, se apresentando como uma atriz inteligente e autêntica de uma forma que muitas vezes não se espera de atores hollywoodianos. Ela conseguiu superar um incidente desastroso e voltar a provar que merece nossa atenção. É o que vamos dar aos seus futuros projetos.