No dia 16 de novembro de 1959, Truman Capote lia o jornal The New York Times quando uma nota na primeira página sobre o assassinato de um influente fazendeiro e sua família em uma pequena cidade do Kansas chamou sua atenção. Naquele mesmo dia, ele ligou para o editor da revista The New Yorker, William Shawn, dizendo que queria escrever sobre o crime e pegou um trem com a amiga e escritora Harper Lee- aurora de "O Sol é Para Todos"- para Holcomb, Kansas. Capote logo percebeu o potencial de sua história para torna-se um livro e passou os cinco anos seguintes trabalhando no caso.
O escritor chegou em Holcomb e viu uma cidade atordoada pelos eventos recentes- era uma cidade onde todos se conheciam e gostavam da família Clutter; o pai Herb, um fazendeiro de influência local, sua esposa Bonnie e seus filhos adolescentes Nancy e Kenyon, de 16 e 15 anos. Foi na noite do dia 14 de novembro que os quatro foram mortos em sua própria casa, cada um com um tiro a queima roupa.
Capote e Lee estavam presentes quando um mês após, logo depois o ano novo, Richard "Dick" Hickock e Perry Smith foram presos em Las Vegas e levados a Holcomb. O famoso escritor relatou que a cidade ficou em silêncio, sem nenhuma hostilidade, apenas surpresos em ver que os dois responsáveis pelo crime que os chocaram eram apenas pessoas. Capote conheceu os assassinos confessos e viu a história que escreveria- um crime de todos os seus ângulos.
"A Sangue Frio" foi publicado da revista "The New Yorker" em quatro partes no ano de 1966 e posteriormente lançado como livro, que tornou rapidamente Capote um dos escritores mais famosos do país e figura desde então como um clássico da literatura americana e do jornalismo literário. Capote dizia na época que havia inventado um gênero- o "romance de não ficção" ou "sem ficção", mas muitos argumentaram então que trabalhos com um estilo parecido já tinham sido feitos antes. A primeira parte se chama "Os Últimos a Vê-los com Vida" e narra o último dia de vida dos membros da família Clutter e o caminho que os assassinos percorriam neste mesmo dia em direção ao lugar onde ocorreria o crime, a segunda se chama "Pessoas desconhecidas", mostrando os eventos ocorridos imediatamente após as mortes e as duas últimas, "Resposta" e "O Canto" concluem a história com a captura dos assassinos, o julgamento, a prisão e a execução de ambos.
"A Sangue Frio" impressiona pelos detalhes, frutos da investigação intensa de Capote, o que também gerou controvérsias- até onde o que está no livro é real? É perceptível que Capote usa técnicas de romances policiais na sua narração, no entanto, o própria jurava que era tudo factual, uma reportagem jornalística escrita em forma de romance. Outra crítica que foi feita ao livro foi a romantização de um dos assassinos, Perry Smith, de quem Capote ficou próximo durante os anos de trabalho no livro. O que Capote diz é que a história do seu livro mostra dois mundos distintos dentro do mesmo país, o de uma família que vive confortavelmente em uma fazendo do Kansas e o de dois criminosos que tiveram uma vida muito diferente, que se chocam em uma catástrofe.
O livro também levantou questionamentos quanto à pena de morte, o próprio Capote se sentiu muito abalado após a execução dos dois criminosos, a qual ele assistiu, algo que ele diz nunca ter esquecido.
Capote e "A Sangue Frio" no cinema
Philip Seymour Hoffman como Truman Capote em "Capote" (2005).
Truman Capote e a história de como ele escreveu "A Sangue Frio" foi tema de dois filmes recentes, o mais famoso deles sendo possivelmente "Capote" (2005) do diretor Bennett Miller, que traz Philip Seymour Hoffman no papel do escritor em uma atuação que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator e Clifton Colllins Jr. como Perry Smith, e também posteriormente "Infamous" (2006), dirigido por Douglas McGrath, com Toby Jones no papel principal, Daniel Craig como Smith e Sandra Bullock como Harper Lee. Em 1967, "A Sangue Frio" foi adaptado pelo diretor Richard Brooks, com Robert Blake e Scott Wilson nos papéis de Perry Smith e Richard Hickock respectivamente, filme que também foi bem recebido e teve indicações ao Oscar.
Clifton Collins Jr. (à esquerda) como Perry Smith e Mark Pellegrino (à direita) como Richard Hickock em "Capote" (2005).