Muitos fãs de cinema sabem que existem umas histórias bem loucas sobre o que acontece por trás das câmeras. Brigas, casos amorosos, diretores loucos que fazem a equipe trabalhar exaustivamente, muitos meses de reclusão dos conhecidos em alguma locação estranha e distante, orçamento acabando antes dos fim das filmagens, improvisos, equipe protestando contra o diretor ou estrela do filme, acidentes, gravidezes sendo escondidas...Fazer um filme não é fácil. Sendo um ambiente de trabalho pouco ortodoxo, situações abusivas podem acontecer, principalmente com atrizes, que como muitas mulheres, não são levadas à sério no seu trabalho e se tornam mais facilmente vítimas de comportamentos abusivos. Combinado a isso, alguns diretores acreditam que vão conseguir boas atuações de seus atores se os colocarem em situações extremamente estressantes. Assim, muitas atrizes sofreram para sobreviver a um período de gravações ou viveram um pesadelo enquanto participavam de um filme.
Shelley Duvall e Stanley Kubrick
Essa deve ser uma das histórias mais contadas dos horrores que uma atriz sofreu nas mãos de um diretor. Shelley Duvall foi escalada para viver Wendy Torrent na adaptação de Stanley Kubrick do livro "O Iluminado" (1980) de Stephen King, o filme se tornaria um clássico do gênero de terror e um xodó dos fãs, que cultuam o filme até hoje. O rosto aterrorizado de Duvall que se vê no filme custou muito à atriz. As filmagens de "O Iluminado" duraram 13 meses e aconteceram na Inglaterra, onde Shelley não tinha nenhum parente ou amigo. Kubrick instruiu a equipe a não falar com Shelley, a famosa cena em que ela segura um taco de baseball enquanto é confrontada por Jack Nicholson teve o número recorde de 127 tomadas, como resultado, as lágrimas dela nessa cena são reais. Como sua personagem passa grande parte do filme fugindo aterrorizada do seu marido, Duvall revelou que chegou a chorar por 12 horas, ela precisava beber várias garrafas de água para se manter hidratada.
Além de que Kubrick nunca elogiou o seu trabalho e dizia a ela que ela estava desperdiçando o tempo de toda a equipe; em um documentário feito por Vivian Kubrick, filha do diretor, sobre as filmagens, o diretor aparece lhe dizendo: "Não simpatize com Shelley." A atriz, no entanto, não aceitou tudo calada e entrou em discussões com o diretor, além de ter mostrado a ele um tufo do seu cabelo que havia caído devido ao estresse com o filme. Se tudo isso já não faz a experiência de Shelley parecer ter sido infernal, ainda exite o rumor de que na filmagem da cena em que o personagem de Jack Nicholson abre um buraco na porta com um machado, Shelley não sabia o que estava acontecendo e ficou muito assustada, sendo a sua fala durante essa cena- "Jack, por favor!"-um pedido da própria atriz para que o ator parasse. O próprio Jack Nicholson disse que achou ótimo trabalhar com Kubrick, mas que ele era um "diretor diferente" com Shelley, e sobre o trabalho da atriz, ele disse ter sido o mais difícil que ele já viu um ator ou atriz fazer. Outro detalhe interessante é que Stephen King não gosta nem um pouco do filme e uma das razões é o retrato da personagem, Wendy; ele diz que ela é uma das personagens mais misóginas feitas em um filme, porque "ela só está ali para gritar e ser estúpida e essa não foi a mulher sobre a qual eu escrevi."
Apesar de tudo, Duvall falou que mesmo a experiência tendo sido "quase insuportável", toda a gritaria e choro também funcionavam como uma terapia e tinha um efeito calmante no final. Pelo menos ela conseguiu enxergar algo de bom nisso tudo; apesar da notoriedade do filme, a atriz também reclamou sobre o trabalho dela não ter sido reconhecido na época da estreia do filme; "As críticas eram todas sobre Kubrick, era como se eu nem estivesse lá."
Faye Dunaway e Roman Polanski
Durante as gravações de "Chinatown" (1974), a atriz principal, Faye Dunaway, e o diretor do filme, Roman Polanski, tiveram uma relação notoriamente ruim. A atriz, já famosa por "Bonnie e Clyde- Uma rajada de balas"(1967) e o diretor, que havia ganhado atenção por filmes como "O Bebê de Rosemary"(1968) não tiveram nenhuma razão aparente para os seus conflitos, o que se sabe é que Polanski não deu a Dunaway o melhor tratamento- quando perguntado pela atriz sobre quais eram as motivações da sua personagem, o diretor recusou a lhe dar direções dizendo: "Diga as palavras, seu salário é a sua motivação." Em outro momento, quando Polanski achou que o cabelo da atriz estava prejudicando o enquadramento, ele apenas puxou e arrancou a parte do cabelo que estava atrapalhando. Com mais ares de lenda, existe também a história de que Dunaway urinou em uma garrafa e jogou em Polanski após ele não a ter deixado ir ao banheiro durante as gravações. A atriz foi perguntada nos últimos anos sobre a veracidade dessa história e não quis responder. Apesar de tudo, o filme não sofreu com as brigas e se tornou um grande sucesso, sendo aclamado até hoje como um dos melhores filmes do cinema. Coincidentemente, o ator principal desse filme, assim como "O Iluminado" é Jack Nicholson.
Jean Seberg e Otto Preminger
Uma história menos conhecida é a de Jean Seberg enquanto
trabalhava com Otto Preminger. Se atrizes famosas e prestigiadas sofrem maus
tratos de diretores, imagine atrizes jovens e inexperientes buscando ganhar
reconhecimento. Seberg ficou especialmente vulnerável a Preminger porque ela
nunca tinha feito nenhum filme antes de ganhar o muito cobiçado papel de Joana
d'Arc no filme do diretor, "Saint Joan", sobre a vida da
heroína lançado em 1957. Jean era uma adolescente de 17 anos quando venceu a
competição de várias outras atrizes jovens e desconhecidas e foi imediatamente
lançada à fama como a menina do meio-oeste americano que estrelaria um filme de
Preminger, aparecendo em programas de TV acompanhada do diretor para dar
entrevistas logo após o anúncio da sua escalação para o filme. Jean tinha um
contrato com Preminger de sete anos para filmes futuros do diretor, com Preminger arcando com todas as despesas dela e ainda pagando um salário de 400
dólares por semana (equivalente a 3.500 dólares hoje) durante o primeiro ano de
contrato. Jean estava nas mãos de Preminger e aí que ele começou a aplicar
métodos esquisitos à atriz.
Preminger controlava a vida de Jean, não deixando-a sair nem para comer, dizendo que ela tinha que ficar no seu quarto de hotel estudando as suas falas. Ele a fazia passar por inúmeras tomadas sem lhe dar as instruções certas, deixando-a confusa ou em lágrimas. O ator John Gielgud, que também trabalhou no filme, disse que Jean não sabia nada sobre atuação em filmes e estava desesperada para aprender, mas ao invés de ensiná-la, Preminger a punia; outro ator do elenco, Richard Widmark relatou: "Todos nós pedimos para ele deixá-la em paz, nada adiantou, talvez fosse um teste de resistência, mas para mim era sadismo." Na cena da execução de Joana d'Arc, houve uma falha nos efeitos pirotécnicos e Jean começou a se queimar, ela gritou- fora de personagem- que estava queimando, a cena continuou e Jean conseguiu se livrar das amarras, em seguida, um dos atores que interpretava um carrasco saiu de personagem para resgatar a atriz. Preminger comentou sobre o ocorrido dizendo que era um acidente que um diretor como ele sonhava em ter e se vangloriou sobre como tudo tinha sido pego pelas câmeras, ele ainda usou a tomada em que Jean se queimou na versão final do filme, que ficou com cicatrizes pelo resto da sua vida por causa das queimaduras, além do trauma emocional.
O filme não foi bem recebido e a atuação de Jean recebeu críticas
negativas, mas com um consenso dos críticos: ela havia sido mal escalada e mal
dirigida. Hoje é possível perceber que o que Preminger viu em Jean foi a
possibilidade de controlar uma atriz sem nenhuma experiência e que não sabia
que não precisava dizer "sim" sempre. A jornalista Karina Longworth
conta essa história e a do filme seguinte que Jean fez com Preminger-
"Bonjour Tristesse", cujas filmagens não foram mais fáceis e foi o
último filme que Jean fez com o diretor- em seu podcast, "You Must Remember This" . Preminger controlava a vida de Jean, não deixando-a sair nem para comer, dizendo que ela tinha que ficar no seu quarto de hotel estudando as suas falas. Ele a fazia passar por inúmeras tomadas sem lhe dar as instruções certas, deixando-a confusa ou em lágrimas. O ator John Gielgud, que também trabalhou no filme, disse que Jean não sabia nada sobre atuação em filmes e estava desesperada para aprender, mas ao invés de ensiná-la, Preminger a punia; outro ator do elenco, Richard Widmark relatou: "Todos nós pedimos para ele deixá-la em paz, nada adiantou, talvez fosse um teste de resistência, mas para mim era sadismo." Na cena da execução de Joana d'Arc, houve uma falha nos efeitos pirotécnicos e Jean começou a se queimar, ela gritou- fora de personagem- que estava queimando, a cena continuou e Jean conseguiu se livrar das amarras, em seguida, um dos atores que interpretava um carrasco saiu de personagem para resgatar a atriz. Preminger comentou sobre o ocorrido dizendo que era um acidente que um diretor como ele sonhava em ter e se vangloriou sobre como tudo tinha sido pego pelas câmeras, ele ainda usou a tomada em que Jean se queimou na versão final do filme, que ficou com cicatrizes pelo resto da sua vida por causa das queimaduras, além do trauma emocional.
Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos e Abdellatif Kechiche
Uma história mais recente e que ganhou atenção da mídia foi das reclamações das atrizes francesas Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos sobre o diretor Abdellatif Kechiche, que as dirigiu no aclamado "Azul é a cor mais quente" (2013). Quando o filme estreou em Cannes em maio de 2013 e ganhou o prêmio Palma de Ouro- sendo dividido entre o diretor e as duas atrizes principais, um fato inédito- tudo parecia bem, ou nem tanto, logo após o sucesso no festival, Seydoux falou para a imprensa que Kechiche as fez repetir as cenas de sexo (muito explícitas) várias vezes na frente de toda a equipe- é comum diretores só manterem os profissionais mais importantes em uma cena que envolve nudez ou simulação de sexo- durante vários dias; ela chegou a dizer que se sentiu como "uma prostituta". Exarchopoulos confirmou a história de sua colega de elenco dizendo que elas ficavam cansadas após tanto tempo filmando essas cenas, mas confessou que não tinha ficava tão chateada quanto Seydoux e que não tinha esperado por aquilo antes das filmagens. Kechiche respondeu chamando Seydoux de mimada- a atriz vem de família abastada- e tudo pareceu nada mais do que uma briga entre a atriz e o diretor. Porém, é de se observar que forçar duas atrizes heterossexuais a simularem cenas de sexo muito realistas durante várias horas é, no mínimo, insensível da parte do diretor, por não se importar com que tipo de ambiente ele está criando para atrizes das quais ele está exigindo muito; mostra também que ele não mediu distâncias- e não se importou com o bem estar de suas atrizes- para obter o resultado que desejava. Uma experiência como esta também pode ser vista como humilhante a abusiva como parece ter sido a forma que Léa Seydoux encarou. Além disse, antes de revelar suas queixas, a atriz chegou às lágrimas em entrevista coletiva durante o Festival de Cannes quando falava sobre as dificuldades de filmar as cenas explícitas do filme.
É triste ver que, às vezes, grandes atrizes como Seydoux, Duvall, Dunaway e Seberg passaram por momentos angustiantes nas mãos de diretores autoritários e insensíveis para entregar atuações que nós admiraríamos depois; infelizmente, muitas mulheres ainda sofrem com homens que se dão a liberdade de tratá-las como bem entendem em seus ambientes de trabalho e acabam vivendo com muita hostilidade nos lugares onde elas deveriam se sentir o mais livres para serem produtivas.