Na chamada Era de Ouro de Hollywood muitos musicais eram feitos e mesmo nos filmes que não fossem musicais, um número de dança não era estranho. Assim, muitas estrelas de cinema conseguiram se destacar no showbiz pelas suas habilidades como dançarinos. Mesmo após o enfraquecimento dos estúdios e uma quantidade consideravelmente menor de musicais sendo feitos, muitos atores dão seus primeiros passos para uma carreira no cinema pela dança.
Joan Crawford
Joan, nascida com o nome de Lucille LeSueur, foi descoberta por um produtor em Detroit onde ela se apresentava na década de 20 e ele a colocou no grupo de dançarinas do seu show na Broadway. Pouco tempo depois, a atriz e dançarina fez um teste com um produtor de Hollywood e assinou o seu primeiro contrato com a MGM. Após seus primeiros filmes, ouviu a recomendação que deveria mudar de nome, seu nome parecia "inventado", apesar de ser seu nome verdadeiro (ela ainda chegou a ser creditada pelo seu nome de nascença em suas primeiras aparições em filmes). Frustrada com os papéis pequenos que era dada, Joan começou a se expor em Hollywood visando se promover, e suas habilidades como dançarina foram o que atraiu atenção mais uma vez- ela participou e ganhou muitas competições de dança da noite hollywoodiana. Ela alcançou o seu objetivo e conseguiu papéis de maior destaque nas produções seguintes em que participou; nesses filmes, Joan passou a encorporar a "flapper"- como eram chamadas as garotas da década de 20 que viviam de forma não convencional, vestindo roupas curtas e saindo para beber e dançar- estilo de vida que se destacava junto com a ascensão do jazz, e no caso de Joan, assim como no de Clara Bow e de outras atrizes da época, isso lhe trouxe muita popularidade, principalmente entre o público feminino. Esse tipo de personagem deu a Joan a oportunidade de aparecer em muitos números de dança nos seus primeiros filmes de sucesso. Joan não continuaria dançando muito durante em seus filmes, a sua carreira evoluiu para um caminho mais "sério", ela se tornou um sex symbol e depois uma atriz respeitada, mas este ícone do cinema deu seus primeiros passos em Hollywood pela dança.
Ginger Rogers
"Minha mãe me disse que eu dançava antes de nascer. Ela sentia os meus dedos dos pés sapateando intensamente dentro dela por meses." Romantizou Virginia McMath, ou como você talvez a conheça, Ginger Rogers. A atriz começou a dançar e cantar muito jovem e entrou na cena do vaudeville (gênero teatral com muita música e dança) ainda adolescente. Enquanto fazia turnê com o seu número de vaudeville, Ginger começou a conseguir trabalhos em Nova York, o que a levou à Broadway- fazendo sua estréia no Natal de 1929 com o musical "Top Speed". Apenas algumas semanas depois da sua estréia, Ginger entrou no elenco do musical "Girl Crazy" de George Gershwin e Ira Gershwin; com esse segundo trabalho no teatro musical, ela ganhou fama na Broadway aos 19 anos de idade. Nos anos seguintes, Ginger começou a aparecer em filmes e em 1933 fez seu primeiro filme musical com Fred Astaire, inaugurando uma parceria que iria durar pelo resto década e resultar em filmes de grande popularidade. "Fred e Ginger" tinham números de dança complicados e cheios de elegância, cantando canções originais feitos pelos compositores mais populares da época em um mundo de glamour e sonho criado nos filmes para um público americano que passava pela Grande Depressão- começada em 1929 e se alastrando pelá década de 30. Fred Astaire teve outras parceiras de dança em seus filmes, principalmente após Ginger ter começado a focar em filmes de drama e comédias, mas a sua parceria com Ginger continua sendo a mais famosa, também tendo sido considerada pelo próprio Astaire como sua parceira predileta. Sobre os dois, a atriz disse: "Eu faço tudo que o homem faz, só que para trás e de salto alto!" Com o reconhecimento que Astaire tem hoje, Ginger pode parecer meio delirante dizendo isso, mas na verdade, ela nunca ganhou o devido reconhecimento pelo trabalho que fez nos musicais com o famoso dançarino. Ela tinha que acompanhar as coreografias de Astaire sendo bem menos experiente, dançar com salto- que era a norma- e vestindo vestidos longos e pesados feitos para ficarem bonitos na tela, e não para dança profissional. Ginger Rogers não apenas ganhou espaço pela dança, mas fez uma de suas grandes marcas no cinema com ela.
Rita Hayworth
Rita Hayworth é mais lembrada hoje como Gilda no filme noir de mesmo nome, muito também devido à referência a esse papel em "Um Sonho de Liberdade" (1994). Mas ela também foi uma das parceiras mais sublimes de Fred Astaire em filmes musicais, graças a sua extensa experiência com dança anterior à sua carreira no cinema. O pai de Rita, Eduardo Cansino, era um coreógrafo espanhol, e a atriz começa a ter aulas de dança aos três anos de idade, começou a se apresentar em público aos seis anos e virou parceira de dança do seu pai em apresentações em cassinos aos 12 anos. Foi vista dançando com o seu pai por um produtor de Hollywood e conseguiu um contrato com a Fox, suas primeiras aparições em filmes: dançando ou interpretando dançarinas. Depois vieram pequenos papéis com falas e os produtores do estúdio ganharam interesse em torná-la uma estrela, apagaram os seus traços hispânicos- que a deixava apenas os papéis de personagens "exóticas"- mudando o seu nome de Rita Cansino para Rita Hayworth e pintando seu cabelo moreno de vermelho escuro. Assim é conhecida hoje a atriz das femme fatales dos filmes noir que nasceu com o nome Margarita Carmen Cansino e dançava o bolero.
Fred Astaire
Falar de dança no cinema é quase o mesmo que falar em Fred Astaire, o mais famoso e produtivo dançarino das telonas era acima de tudo isso- um dançarino- mais do que um ator ou cantor. Fred começou a ter aulas de dança ainda criança- contra a sua vontade- devido à ambição de sua mãe de tornar ele e sua irmã estrelas do vaudeville (onde números com irmãos eram populares). Fred e sua irmã, Adele, conseguiram sucesso ainda crianças e continuaram dançando juntos até a vida adulta, aparecendo em produções na Broadway e em Londres. Quando a irmã Astaire se casa, Fred fica sem parceira, o que teve um grande impacto nele; assim, ele passa a expandir seus horizontes e a fazer testes para os estúdios de Hollywood após muitos anos de carreira no palco e de ter até sido considerado o melhor sapateador do mundo. Talvez pela sua aparência, por não ser muito jovem ou por não ter grandes habilidades com atuação, Fred não conquistou os produtores de Hollywood imediatamente, mas o seu talento com a dança provou um charme que depois foi reconhecido como irresistível para as câmeras e em 1933 ele teve sua estréia no cinema em "O Turbilhão da Dança ", com Joan Crawford. Naquele mesmo ano, ele aparece com Ginger Rogers em "Voando para o Rio"- o início da parceria Rogers-Astaire. Após os filmes com Ginger durante a década de 30 que se tornaram os mais lucrativos do estúdio RKO até então, alguns fracassos ou sucessos mais tímidos- que não cobriam os custos de produção- fizeram Fred abandonar o estúdio que lançou sua carreira cinematográfica e começar a trabalhar como freelance, o que também foi o fim de sua parceria Rogers (que teve uma volta na produção da MGM "Ciúme, sinal de amor" em 1949, o único filme em cores estrelado pela dupla). O que seguiu à decisão de Astaire foi duas décadas de muitos filmes onde o ator e dançarino impressionava o público com o seu talento e classe. Nas décadas de 60 e 70, Fred começa a aparecer em filmes e programas de TV em que não dançava e chegou a ser indicado a um Oscar em 1974 por "Inferno na Torre". Fred morreu em 1987, aos 88 anos, Gene Kelly, Michael Jackson, George Balanchine, Jerome Robbins (que coreografou um ballet em sua homenagem), Rudolf Nureyev, Mikhail Baryshnikov e Madhuri Dixit são alguns nomes que nomearam Astaire como fonte de inspiração. Hoje você pode se deleitar com horas e horas de dança de Fred Astaire em seus filmes e em vídeos na internet.
Fred e sua irmã, Adele, em 1906, quando ela tinha dez anos e ele, seis.
Gene Kelly
Gene Kelly, com certeza, não se imaginava como um ator de cinema quando era mais jovem; ele começou a dançar na adolescência e continuou quando entrou na universidade para estudar jornalismo, depois mudando para economia e direito, até perceber que a dança- que lhe dava uma renda extra- era o que queria fazer. Kelly ensinava dança e conseguiu abrir uma acadêmia de dança junto de sua família. Desencantado com o ensino e buscando oportunidades como coreógrafo, Kelly se mudou para Nova York. Ele não encontrou sucesso de imediato, ainda tendo que voltar para a sua Pittsburgh natal antes de se destacar na Broadway coreografando e se apresentando; ofertas de Hollywood vieram e o dançarino/coreógrafo, apesar de hesitante em deixar Nova York, assinou um contrato com o produtor David O. Selznick, que logo depois o vendeu para a MGM. Ele estreou em um musical com Judy Garland em 1942, "For Me and My Gal", e continuou aparecendo em vários musicais durante a década de 40, atuando ao lado de Lucille Ball, Rita Hayworth e Frank Sinatra. Seu grande legado porém seria deixado no início na década de 50: com "Sinfonia em Paris", em 1951, e "Cantando na Chuva" em 1952. O segundo, que ele também dirigiu e coreografou, e por qual provavelmente seja mais reconhecido devido ao famoso número da música "Singin' in the Rain", além de "Moses Supposes" junto a Donald O'Connor e "Broadway Melody" com Cyd Charisse. Deve-se exaltar as habilidades de Kelly como coreógrafo, só de olhar para fotos de alguns números criados para os seus filmes já é possível ver a beleza plástica que o ator levava à tela criando e dançando.