sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Maiores estrelas do cinema por década: anos 20



  A década de 1920 é um dos períodos mais referenciados culturalmente, as melindrosas, o corte bob, o jazz...A década ficou conhecida "Roaring Twenties" ou "Loucos Anos 20". Vários países do mundo viviam o êxtase do fim da Primeira Guerra Mundial e com a esperança de paz. Em Hollywood, foi uma época decisiva - no ano de 1927 o primeiro filme falado é lançado, "O Cantor de Jazz", mudando a indústria cinematograficamente mais rapidamente do que qualquer mudança tecnológica de antes ou que viria depois. Com isso, muitas estrelas que colheram sucesso no cinema mudo durante os anos 1910 e o começo dos anos 20 tiveram suas carreiras acabadas quando os estúdios não as julgaram adequadas para a nova forma de atuar no cinema, ou seus primeiros filmes falados não seguiram o sucesso de seus trabalhos da era do cinema mudo. Ainda assim, alguns atores e atrizes conseguiram superar a mudança e outros floresceram com ela; em tudo, a década de 20 foi mais uma em que o poder do cinema e de suas estrelas cresceram.

Clara Bow


  Clara Bow fez parte da primeira geração que teve o cinema incorporado a seu estilo de vida, adolescente na época em que estrelas como Mary Pickford e Lillian Gish estavam no auge, a jovem que cresceu em enorme pobreza em Nova York, onde nasceu no ano de 1905, começou a sonhar em ser atriz de cinema muito jovem. Com desaprovação da mãe e apoio do pai, ela venceu um concurso de beleza de uma revista onde o prêmio era uma pequena participação em um filme - do qual as suas cenas acabaram sendo cortadas para a enorme decepção da atriz de então 17 anos. Ela persistiu e ao estrelar no seu primeiro filme no ano seguinte, o sucesso foi imediato - Clara, sem nunca ter estudado atuação, era hipnotizante, sua presença na tela possuía um magnatismo que foi a marca de sua carreira. O filme "It" de 1927 daria a ela o apelido de "it girl", expressão popularizada pelos anos e muito usada atualmente. Devido à sua enorme popularidade, Clara conseguiu transitar com sucesso para os filmes falados; apesar disso, ela se aposentou em 1932, um anos após ter se casado e foi morar em um rancho. Ela interrompeu a sua aposentadoria e assinou um contrato para mais dois filmes quando o dinheiro faltou, após o lançamento do último deles em 1933, ela não fez mais nenhum filme. 
   

Buster Keaton




  Buster Keaton nasceu no ano de 1895 filho de artistas de vaudeville, o que o levou aos palcos aos três anos de idade. Aos 22 anos conheceu o comediante Roscoe "Fatty" Arbuckle, que na época trabalhava nos estúdios Talmadge; após tantos anos em vaudeville, Keaton não levava o cinema muito a sério, mas pediu uma câmera emprestado a Arbuckle para ver como era. O que aconteceu em seguida foi uma das melhores décadas de um ator de cinema; durante os anos 20, Buster Keaton produziu vários filmes de forma independente ganhando popularidade e prestígio entre críticos que o consideram até hoje um dos melhores comediantes das telonas de todos os tempos. Sua marca registrada era a sua "cara de pedra" - uma expressão facial que não mostrava nenhuma emoção. Se falava de uma rivalidade com Chaplin, o que levou o inglês a convidá-lo a fazer uma participação no seu filme "Luzes da Ribalta" (1952) quando os dois já tinham mais de 50 anos e Keaton voltava a participar de filmes depois do ostracismo da década de 40 - decorrente da escolha de assinar com os estúdios MGM, o que baixou a qualidade de seus filmes e papéis. Nesse mesmo período de retorno, ele também teve uma pequena participação em "Crepúsculo dos Deuses" (1951), como ele mesmo.


Rudolph Valentino


Rudolph Valentino foi o primeiro astro de Hollywood a ter uma legião de seguidoras. O italiano foi morar nos Estados Unidos aos 18 anos por não conseguir encontrar emprego em sua terra natal. Após se estabelecer como professor de dança de Nova York, teve problemas devido a um suposto caso com uma mulher casada que resultou em sua prisão (provocada pelo influente marido da mulher) e por ela ter assassinado o marido após, o que fez Valentino deixar Nova York para evitar testemunhar em um julgamento midiático. Na Califórnia ele conheceu o ator Norman Kerry, que o aconselhou a tentar uma carreira no cinema. No começo de sua carreira cinematográfica, o ator ficou relegado a personagens vilanescos; o maior galã da época era Wallace Reid com sua aparência de típico homem americano. Aos poucos Valentino conseguiu seu espaço, principalmente com a ajuda da roteirista June Mathis, que escreveu muitos dos seus filmes. O ator italiano ainda interpretou muitos personagens hispânicos e árabes com características grosseiras, o que não impediu o crescimento de sua popularidade. Com a sua celebridade, Valentino conquistou o público feminino americano, mas continuava sendo um tipo que os homens não queriam imitar (apesar de acabarem copiando as tendências que o astro italiano lançou como o cabelo puxado para trás com gel).
Entretanto, tudo acabou repentinamente quando no ano de 1926, Valentino aos 31 anos teve uma ulcera e após cirurgiado uma peritonite, provocando a sua morte inesperada. As fãs ficaram arrasadas, até houve relatos de suicídios e seu velório atraiu uma multidão. Ele foi um dos primeiros atores famosos do cinema a morrer ainda no seu auge.
Em sua curta carreira, Valentino fez filmes bem-sucedidos e outros nem tanto, teve de ficar longe do cinema por problemas com o seu estúdio - Famous Players-Laky, precursor da Paramount -, mas ainda assim é um dos atores do cinema antigo mais lembrados, com filmes retratando a sua história - o mais notável deles de 1977 com o bailarino Rudolf Nureyev interpretando Valentino - menções em obras da cultura popular e homenagens, principalmente em sua cidade natal, Catellaneta. Lá existe uma estátua do ator, um museu, uma fundação, uma escola de cinema e um prêmio de atuação, que não existe mais mas ao longo dos anos foi entregue a atores como Leonardo DiCaprio e Elizabeth Taylor.

Harold Lloyd


  Harold Lloyd, junto a Charlie Chaplin, Buster Keaton e a dupla Laurel e Hardy (O gordo e o magro na versão brasileira) era um dos atores cômicos mais famosos do cinema nos anos 20. Ele é lembrado pelo personagem que criou, um homem de óculos e chapéu sempre esforçado, o que representava o sentimento dos americanos naquela década. Lloyd, no entanto, não começou no cinema nos anos 20, mas na década anterior com um personagem muito similar ao Carlitos de Chaplin e outros personagens cômicos da época. Foi na década de 20 que seu personagem famoso estreou no cinema. Hoje, a figura de Lloyd é associada principalmente às manobras arriscadas que fazia nos filmes, muitos feitas sem dublê. O ator inclusive sofreu um acidente em 1919 enquanto fotograva fotos promocionais, com a explosão de uma bomba cinematográfica enquanto tentava usá-la para acender um cigarro; ele perdeu dois dedos, teve queimaduras graves no rosto e no peito, mas manteve a visão e conseguiu continuara  fazer filmes com ajuda de uma luva. Seus filmes eram muito bem-sucedidos, o que o tornou uma das pessoas mais ricas em Hollywood na época e ele chegou a ter seu próprio estúdio (o qual ele teve que vender em 1937 quando seu sucesso diminuía, levando-o a se aposentar na década de 40). Lloyd foi redescoberto na década de 60 e após a sua morte em 1971, teve seus filmes vendidos e adaptados para a televisão, suas obras cativam o público até hoje. 

Louise Brooks




  Louise Brooks é uma das atrizes dos anos 20 que melhor representa e cuja imagem é mais associada à da melindrosa. Junto a Colleen Moore, a atriz ajudou a popularizar o penteado conhecido como corte "bob". Ela começou a aparecer em filmes com papéis pequenos em 1925 e logo prosseguiu para papéis maiores, mas acabou deixando o seu estúdio, Paramount, por não ter recebido um aumento salarial prometido ainda no final da mesma década, uma escolha que anos depois seria vista como imprescindível para a marca que sua carreira deixaria no cinema. Nos anos de 1929 e 1930 ela fez os seus filmes mais famosos na Europa, participando de filmes expressionistas alemães como "A Caixa de Pandora", "Diary of a Lost Girl" ("Tagebuch einer Verlorenen" no título original, sem versão brasileira) e "Miss Europe" filmado na França. Neste período, Paramount tentou persuadi-la a voltar para Hollywood para fazer filmes falados (ela tinha feito um no mesmo estúdio antes de partir para a Europa), mas a atriz não se convenceu, o que a colocou na lista negra do cinema americano. Com sua volta para Hollywood em 1931, os papéis eram escassos e após ter rejeitado um papel principal para ir a Nova York visitar uma amante, sua carreira acabou de vez. Ela se aposentou poucos anos depois e até tentou uma volta em 1936, o que não a levou a mais filmes. Como outros grandes atores de sua época, foi redescoberta décadas depois e escreveu um livro de memórias três ano ano antes de sua morte em 1982. Ela disse durante toda a sua vida que odiava Hollywood. 


Gloria Swanson


  "Estou preparada para o meu close", é a fala que mais marcou Gloria Swanson, assim como a personagem que a proferiu, Norma Desmond em "Crepúsculo dos Deuses" (1950), considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. É fácil esquecer que 20 anos antes, a atriz foi tão bem-sucedida quanto a sua personagem havia sido em "Crepúsculo dos Deuses". Swanson, diferente de muitas atrizes do cinema, não sonhava em estar nas telonas em sua infância e adolescência, mas estreou logo cedo quando visitou os Estúdios Essanay em Chicago com uma tia e ganhou um papel como figurante, o que levou a mais participações como figurante. Ela decidiu, com apenas 17 anos em 1916, se mudar para a Califórnia, onde começou a trabalhar com Mack Sennett nos Estúdios Keystone. Lá ela primeiro encontrou popularidade contracenando com o ator cômico Bobby Vernon. Em 1919, assinou um contrato com a Paramount, onde começou a trabalhar com Cecil B. DeMille em uma parceria que seria muito bem-sucedida. Sendo assim, já no começo dos anos 20, ela se tornou uma das atrizes mais requisitadas e populares, a ponto de ser recebida de volta nos Estados Unidos com uma grande parada quando voltava de uma breve residência na França após o seu casamento com um marquês em 1925.
  Sendo muito valiosa para o seu estúdio, a atriz recusou uma oferta de um milhão de dólares por ano da Paramount (equivalente a 13 milhões de dólares atualmente) para integrar o recém-formado United Artists, fundado por um grupo de profissionais da indústria cinematográfica que incluía Charlie Chaplin. Lá ela passou a ter liberdade para escolher os temas do seus próprios filmes e com quem trabalhar. O primeiro filme produzido por ela mesma passou por dificuldades na sua produção e não foi bem-sucedido, porém o segundo, "Sadie Thompson" (1928), se tornaria o seu filme mudo mais famoso. Ele também não foi feito de forma tranquila, baseado em um conto chamado "Rain" do escritor W. Somerset Maugham, o enredo era considerado polêmico por se tratar de uma missionário que conhece uma prostituta na ilha da Samoa Americana e tenta "resgatá-la" com um desfecho trágico. Um primeiro anúncio sobre o filme em um jornal causou revolta, apesar disso, o filme foi feito e estreou com enorme sucesso de público e crítica. Após esse êxito, Swanson permaneceu em destaque com alguns filmes falados, mas durante a década de 30 deixou de estar em voga, ela partiu para o então novo meio da TV e só voltou a brilhar nas telonas com a lendária Norma Desmond.