segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Maiores estrelas por década: anos 40


  Nos anos 40, a era clássica de Hollywood chega em um dos seus pontos mais altos: o cinema falado não é mais novidade e a ameaça da TV ao cinema como principal forma de entretenimento ainda não é uma preocupação entre executivos de Hollywood. O sistema de estúdios, controlando todos os aspectos da vida e carreira de suas estrelas, é forte como nunca e apesar disso, mais filmes memoráveis da época chamada "de ouro" de Hollywood ganham o mundo. A Segunda Guerra Mundial mexe com a indústria cinematográfica controlada por judeus descentes de imigrantes do Leste Europeu e suas estrelas usam sua influência para ajudar as forças aliadas. As comédias malucas (screwball comedy) e filmes noir - suspenses sobre crime muito estilizados com personagens cínicos, além de musicais e faroestes, são os gêneros dos sucessos de bilheteria. "O Grande Ditador" (1940), "Casablanca" (1942), "Cidadão Kane" (1940) e "Gilda" (1946) são alguns dos grandes clássicos da década.

Ingrid Bergman


  Ingrid Bergman nasceu na Suécia no ano de 1915, filha de um artista sueco que a pôs em aulas de canto ainda criança com o intuito de inicia-la em uma carreira em ópera. Bergman tendeu para o teatro, no entanto; e logo no começo dos seus estudos em atuação começou a aparecer em peças e filmes suecos. O produtor David O. Selznick levou a atriz para os Estados Unidos em 1939 para estrelar na adaptação americana de um filme sueco chamado "Intermezzo", que logo tornou Bergman conhecida entre o público americano. Ávida por mais filmes, a recém-chegada em Hollywood passou a aceitar vários papéis, entre eles a personagem principal de "Casablanca" (1942), seu filme mais famoso, recusado pela atriz austríaca Hedy Lamarr. Em seguida, Bergman realizou alguns dos melhores filmes de sua carreira em anos consecutivos, recebeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz pela adaptação do livro de Ernest Hemingway "Por quem os sinos dobram?" (1943) e venceu no ano seguinte pelo suspense "À Meia Luz" (1944). Uma breve parceria com Alfred Hitchcock se iniciou em "Quando Fala o Coração" (1945), seguido por "Interlúdio" (1946) e "Sob o Signo de Capricórnio" (1949). Em 1948, aparece em seu terceiro papel a lhe render uma indicação ao Oscar em "Joana D'Arc" (1949), personagem que queria interpretar desde que havia chegado em Hollywood e que havia o feito no teatro. Apesar das indicações do filme a prêmios, a crítica não o avaliou positivamente e o público não compareceu às salas de cinema, em parte por causa do escândalo em que Bergman estava envolvida por deixar seu então marido para se relacionar com o diretor italiano Roberto Rossellini; após se casar com Rossellini, deixou os EUA para aparecer nos filmes de estilo neorrealista do seu marido, voltando a estrelas em filmes americanos em meados dos anos 50 como a personagem-título de "Anastásia" (1955), sobre a princesa russa, vencendo seu segundo Oscar. 

Cary Grant


  Apesar de conhecido no mundo todo como um dos maiores astros de Hollywood, Cary Grant nasceu na Inglaterra com o nome Archibald Leach. Começou a carreira ainda adolescente, viajando pela Inglaterra com uma trupe de atores; após uma turnê pelos Estados Unidos, decidiu permanecer por lá, morando em Nova York e buscando trabalhos na Broadway, onde começou a chamar a atenção da crítica. A crise de 1929 nos EUA que afetou os teatros fez com que Grant, como vários atores da época, buscasse emprego no cinema. O começo do ator foi discreto em personagens pequenos e nem sempre em filmes bem-sucedidos, mas já criando a sua persona de um homem engraçado e elegante. Depois de deixar seu contrato com a Paramount, trabalhou como freelancer e depois em um contrato com dois estúdios - RKO e Columbia - que o permitia mais liberdade para escolher papéis que valorizassem as suas qualidades. Nesse período, fez o primeiro de uma série de filmes contracenando com Katharine Hepburn, os primeiros dos quais agradaram a crítica mas não atraíram o público - "Sylvia Scarlett" (1935), "Levada da Breca" (1938) e "Boêmio Encantador" (1938) -  causando prejuízo aos estúdios envolvidos na produção. Até que "Núpcias de Escândalo" (1940) finalmente conquista o público, com críticas tão boas que fizeram Grant esperar por uma indicação ao Oscar, o que não aconteceu, apesar do filme ter sido reconhecido pela Academia com outros prêmios, entre eles o de Melhor Ator para o seu colega de elenco, James Stewart. Ainda assim, o filme consagrou Grant como uma estrela e a recém-conquistada popularidade deu ao ator a oportunidade de fazer filmes de qualidade superior. Fez o primeiro de uma série de filmes que faria sob direção de Alfred Hitchcock em "Suspeita" (1941) e recebeu sua primeira indicação ao Oscar pelo melodrama "Serenata Prateada"(1941). O talento cômico do ator se torna cada vez mais reconhecido, intercalado por papéis em suspenses e dramas, se destacando em sua filmografia "Apenas um coração solitário" (1944), "Interlúdio" (1946), "Um Anjo Caiu do Céu" (1947), "O Solteirão Cobiçado" (1947) e "A Noiva era dele" (1949). Ele continuou fazendo filmes de sucesso até os anos 60, sendo considerado um dos maiores atores do cinema pela longevidade em que conseguiu se manter relevante na indústria cinematográfica. 



Humphrey Bogart


  
  Humphrey Bogart foi um ator dedicado ao teatro por muitos anos; o cinema surgiu no final da década de 20 com a quebra da bolsa e mesmo então, o ator dividia seu tempo entre os sets e os palcos. O papel na peça "A Floresta Petrificada", posteriormente transformado em filme em 1936 levou mais reconhecimento ao trabalho do ator em ambos meios e abriu portas para mais papéis no cinema. Porém, os personagens ficaram restritos a vilões e criminosos, além de que os melhores iam para os grandes astros do seu estúdio - Warner Bros. - e Bogart só ficava com os que sobravam. Em 1941, a amizade com o escritor John Huston o colocou em dois filmes que fariam sua carreira progredir: "Seu último refúgio" e "Relíquia Macabra", o primeiro havia sido rejeitado pelos atores mais famosos e tinha Huston como roteirista e o segundo foi a estreia de Huston como diretor. Em seguida veio "Casablanca" (1942), seu filme mais conhecido até hoje e o primeiro papel como um herói romântico. Em seu filme seguinte, "Uma aventura na Martinica" (1944), conhece a atriz Lauren Bacall com quem se casaria e faria mais três filmes (todos do gênero noir): "À Beira do Abismo" (1946), "Prisioneiros do Passado" (1947) e "Paixões em Fúria" (1948). Voltou a trabalhar com John Huston em "O Tesouro de Sierra Madre"(1948), considerado um dos 100 melhores filmes americanos pelo Instituto Americano de Cinema (AFI). Bogart continuou ativo até a sua morte aos 57 anos em 1957, se destacou nos anos 50 com os filmes "Uma Aventura na África" (1951) e "Sabrina" (1954). Ao longo de sua carreira criou uma persona distinta no cinema - um homem cínico e charmoso, com um código de honra. Foi escolhido a maior estrela de cinema entre atores pelo AFI em 1999.

Betty Grable


  Betty Grable foi uma das primeiras atrizes a serem consideradas um sex symbol na forma como entendemos e uma precursora essencial do sucesso de Marilyn Monroe nos anos 50. Grable chegou em Hollywood adolescente durante a década de 30 e teve pequenos papéis em filmes dos estúdios RKO e Paramount. Quando o filme de 1939 "Ela prefere os atletas" (Million Dollar Legs no título original, frase que significa "pernas de um milhão de dólares" e se tornaria seu apelido anos depois) não atingiu o sucesso que a Paramount esperava, Grable decidiu deixar Hollywood e aceitar um papel na peça da Broadway "DuBarry was a lady". A peça fez um grande sucesso e chamou a atenção de Darryl F. Zanuck, diretor da 20th Century Fox, que buscava uma atriz para substituir a grande estrela dos musicais da Fox, Alice Faye, em "Serenata Tropical"(1940). Grable conseguiu o papel e o filme a transformou em uma estrela imediatamente, logo a Fox quis repetir a dose, colocando ela para contracenar com Faye em "A Vida é uma Canção" (1940). Visando ampliar o alcance da atriz, Zanuck a pôs nos filmes "Um Yankee na R.A.F."(1941), uma propaganda de guerra onde fez par romântico com Tyrone Power, e no filme noir "Quem matou Vicki?"(1941). Muito em alta, uma das fotos que Grable fez em uma sessão de fotos corriqueira se tornou imensamente popular entre os soldados americanos que lutavam na Segunda Guerra Mundial em 1943. Nela, a atriz usa um maiô branco e posta de costas para a câmera. A Fox continuou querendo variar os gêneros dos filmes da atriz, mas Grable se sentia insegura e preferia fazer musicais, gênero no qual continuou obtendo sucesso pelo resto da década, até sua própria escolha de não se arriscar em outros filmes a colocar em conflito com o seu estúdio. Depois de cair um pouco em popularidade no começo dos anos 50 (continuou sendo uma das atrizes mais famosas de Hollywood), se aposentou na metade da década, um dos seus últimos sucessos foi na comédia "Como Agarrar um Milionário" (1954), com Marilyn Monroe e Lauren Bacall.




Rita Hayworth


    A mulher inesquecível é o subtítulo de "Gilda", papel que definiu a carreira de Rita Hayworth como personagem-título do clássico filme noir. Treinada desde a mais tenra idade em ballet, sapateado e dança clássica espanhola - sua família era de origem espanhola e seu avô foi um grande dançarino clássico espanhol, seu pai continuou a tradição com uma carreira como dançarino e abrindo um studio de dança em Los Angeles. As oportunidades para Rita no cinema começaram em musicais, onde poderia explorar suas habilidades; visando torná-la uma estrela em seu próprio direito e não apenas a atração exótica de musicais, foi instruída pelo presidente da Columbia Harry Cohn a mudar seu nome, de Rita Cansino para Hayworth, adotando o sobrenome de solteira de sua mãe. Seu primeiro veículo para o estrelato já foi o bem sucedido musical "Ao compasso do amor" (1941), contracenando com Fred Astaire. O ator e dançarino já havia uma parceria de sucesso com Ginger Rogers no cinema, então o sucesso da parceria com Hayworth resultou na produção de outro filme logo após o primeiro sucesso, "Bonita Como Nunca" (1942). Em 1941, uma foto tirada para a revista Life de camisola se tornou uma das mais vendidas entre os soldados americanos, fazendo de Rita uma das mais famosas pin-ups da época. Em 1946, a atriz dá vida ao seu papel mais famoso, da personagem-título no filme de gênero noir "Gilda" (1946), o que também a marcou como uma das  grandes femme fatales - papel de uma mulher misteriosa, sedutora e perigosa em filmes do gênero noir. Logo depois fez "A Dama de Xangai" (1947), outro filme noir, agora dirigido pelo seu então marido Orson Welles, aclamado pela crítica mas sem sucesso de público, possivelmente devido à mudança no visual de Rita, com cabelos curtos e tingidos de louro platinado, diferente do seu conhecido ruivo longo. Após uma década composta por, quase de forma exclusiva, sucessos, Rita deixou Hollywood em 1949 para se casar com o príncipe paquistanês Aly Khan. Em meados da década de 50, após o fim do casamento, a atriz retornaria à sua carreira cinematográfica.



sábado, 3 de agosto de 2019

Chernobyl da HBO




  A minissérie "Chernobyl" estreou em maio sendo muito aclamada por público e crítica, sendo uma das mais faladas entre as lançadas este ano e adquirindo algumas das notas mais altas do site agregador de críticas IMDb, inclusive um impressionante 9,9 em seu último capítulo. Em cinco episódios, a produção da HBO narra os eventos ocorridos no acidente da usina nuclear de Chernobyl, na cidade de Pripyat, da então União Soviética, atual Ucrânia. Os personagens principais são o cientista Valery Legasov (Jared Harris), Boris Shcherbina (Stellan Skarsgard), um membro do governo, a cientista Ulana Khomyuk (Emily Watson), uma física nuclear, e alguns personagens que foram afetados pela tragédia e tiveram suas perspectivas abordadas; baseados em grande parte nos relatos trazidos pela autora Svetlana Aleksiévitch no seu livro "Vozes de Tchernóbil".
  O primeiro episódio já começa revelando um fato muito importante da história: o suicídio de Legasov exatamente dois anos após o acidente nuclear - o que não foi uma licença poética adotada pela série. Intitulado "1:23:45", a hora com números em ordem crescente também não foi uma escolha sensacionalista da série, mas também o horário exato em que o núcleo do reator 4 explodiu naquele 26 de abril de 1986. Tudo que acontece imediatamente após a explosão é apresentado nesse primeiro episódio, a reação de incredulidade de funcionários e diretores à perspectiva do núcleo de um reator RMBK ter explodido e as pessoas da cidade seguindo suas vidas achando que o que acontecia na usina era apenas um incêndio. Vários detalhes da história já são surpreendentes nesse ponto - mesmo para quem se lembra de ter estudado sobre o tema nas aulas de geografia ou visto os noticiários da época -como a decisão inicial do conselho formado para lidar com o acidente de não evacuar a cidade e diminuir a gravidade do acidente para o público.



  Um dos destaques da série é a fidelidade aos eventos reais, com exceção da personagem de Ulana Khomyuk, uma liberdade tomada pela série que auxiliou muito na narrativa, pois a justificativa dos escritores para a criação de uma personagem fictícia em meio de uma história real foi o intuito de usá-la como representação dos vários cientistas da vida real que trabalharam para conter os danos do acidente nuclear e descobrir a causa dele. 
  Um dos maiores triunfos da série é fazer justiça a pessoas como Legasov, Shcherbina e os cientistas representados por Khomyuk. Apesar dos fatos principais serem conhecidos, a série consegue criar suspense à medida que as dificuldades se impõem e com isso mostrar a coragem e importância das atitudes que contiveram o perigo da radiação e levaram a verdade a conhecimento público. E então chega à sua grande conclusão, resgatando a cena do suicídio de Legasov que abre a série: "qual é o preço das mentiras?" Ao descobrirem a verdade sobre o acidente de Chernobyl, que o partido comunista tanto tentou esconder, a conclusão que fica é que as vidas das pessoas valiam menos para o governo do que a imagem que a URSS queria passar enquanto a potencial rival do ocidente na Guerra Fria.
  
Boris Shcherbina (Stellan Skarsgard), Valery Legasov (Jared Harris) e Ulana Khomyuk (Emily Watson.

  Apesar do primeiro episódio ser um dos mais emocionantes, mostrando o que acontece na noite do acidente, a reconstrução feito no último episódio, feita segundo por segundo, do que antecedeu a explosão, consegue ser ainda mais intrigante. Além de tornar compreensíveis conceitos nem um pouco simples para o público leigo em energia nuclear sem ser maçante, o que é imprescindível para a compreensão do que aconteceu e do peso das mentiras contadas na versão oficial divulgada inicialmente. 
  A proposta da série pode parecer, a primeira vista, como uma "provocação" dos Estados Unidos à extinta União Soviética, tendo saído vitoriosos da Guerra Fria. Apesar de mostrar uma das piores facetas do governo autoritário soviético, a série tem muito mais como objetivo exaltar os seus heróis, o que a indústria americana raramente faz com personagens não-americanos, principalmente soviéticos. Ainda assim, a repercussão da minissérie fez com que a TV estatal russa anunciasse a produção de sua própria série sobre o acidente nuclear de Chernobyl com "a versão verdadeira dos fatos" que envolve um agente da CIA infiltrado na usina de Pripyat. No entanto, a produção americana não deixou de agradar o público russo, como o jornalista Ilya Shepelin escreveu em sua defesa:"O fato de que um canal de TV americano, e não russo, contou a história sobre os nossos próprios heróis é uma fonte de vergonha para a mídia Pró-Kremlin da qual eles não suportam".  



  "Chernobyl" recebeu 19 indicações ao Emmy, o prêmio mais importante da TV americana, e essa foi apenas a primeira grande premiação a qual a minissérie pôde ser indicada devido ao seu lançamento recente. O seu sucesso consagra a HBO como, ainda, uma das maiores produtoras de TV - apesar do sucesso recente de séries da Netflix, Amazon e outros serviços de streaming - que segue o prestígio de outras produções recentes do canal: "Big Little Lies", "Euphoria", "Gentleman Jack" e "Game of Thrones". Uma segunda temporada não acontecerá, já que a história de Chernobyl foi concluída em seus cinco episódios, o que o público pode fazer é assistir e re-assistir essa série que será lembrada como uma das melhores do gênero de drama histórico.

Vídeo que compara as imagens de "Chernobyl" com imagens reais do acidente.



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Maiores estrelas do cinema por década: anos 30


  Dando a continuidade à série "Maiores Estrelas por Década", chegamos aos anos 30. Nesse momento os filmes falados estão em pleno vapor e muitos atores do teatro decidem testar a sorte nos filmes, também por causa, entre outras razões, das consequências da crise da bolsa de 1929 que esvaziou os teatros e fez alguns até se transformarem em cinemas! Alguns dos mais consagrados atores do cinema surgem nessa década devido a isso, elevando o padrão de atuação cinematográfica (ainda tida então como menos séria do que a teatral) e rendendo filmes memoráveis, como "...E o Vento Levou" (1939) e "Aconteceu Naquela Noite" (1935).

Greta Garbo


  "Eu quero ficar só", a frase mais associada a Garbo, dita no filme "Grande Hotel", foi muito associada à Garbo da vida real, talvez porque ela tenha decidido se aposentar aos 36 anos e se recolher da vida pública. Greta nasceu Greta Gustafsson na Suécia em 1905 e começou a fazer filmes em seu país natal até ser vista por Louis B. Mayer e levada aos Estados Unidos, onde após passar por uma transformação nas mãos da MGM que mudou o seu nome e a tornou o ícone de filmes lânguidos de romance ainda na década de 20 em filmes mudos. Já muito conhecida, a década de 30 começou para Greta com o seu primeiro filme falado, "Anna Christie", adaptação da peça de mesmo nome de Eugene O'Neill, com o slogan "Garbo fala!", o filme foi o mais bem sucedido nas bilheterias naquele ano e sedimentou a transição da atriz para os filmes falados ainda dando a ela a sua primeira indicação ao Oscar. Sua indicação também incluiu o seu trabalho no filme "Romance", lançado naquele mesmo ano (na época era possível um ator ser indicado por mais de uma atuação). Os sucessos iniciais nos filmes falados se repetiu com o seu icônico papel como uma espiã da vida real em "Mata Hari" (1931); e em"Grande Hotel" (1932) - primeiro filme a unir um grupo de estrelas no seu elenco: Joan Crawford, John Barrymore e Wallace Beery -; "Rainha Christina" (1932) - o primeiro do seu contrato renovado com a MGM que lhe garantiu um salário de $ 300.000 por filme, equivalente a $ 5.500.000 atualmente -; e "Anna Karenina" (1935) - onde sua interpretação foi aclamada-. Após essa série de sucessos, "Madame Walewska" foi o primeiro filme de Garbo a perder dinheiro à MGM. Visando mudar a imagem da atriz, os executivos do estúdio decidiram colocá-la em uma comédia, "Ninotchka", dessa vez sob o slogan "Garbo ri!", fazendo referência aos vários papéis melodramáticos que ela fez antes. A comédia foi bem sucedida com crítica e público nos Estados Unidos e no exterior, mas foi banida na União Soviética por retratar de forma negativa o regime de Joseph Stálin, tendo sido o primeiro filme hollywoodiano a fazê-lo. A década de 40 começou com o maior fracasso da atriz, a comédia romântica "Duas Vezes Meu!" (1941), a qual atriz chamaria depois de "minha sepultura". Apesar do insucesso do filme ter sido atribuído como determinante para a aposentadoria da atriz, ela não pensou em se aposentar logo após e aceitou outros projetos durante a década de 40, mas eles ou não iam para frente ou ela os abandonava; ela nunca mais apareceria em um filme apesar de continuar aceitando trabalhos periodicamente que depois abandonava. Quatro anos antes de sua morte em 1990, a atriz revelou que o motivo de sua aposentadoria foi por simplesmente não gostar de sua vida em Hollywood. 



Gary Cooper


  Gary Cooper, assim como Greta Garbo chegou à década de 30 já como um nome conhecido, apesar de ter se tornando um apenas em 1929 com o seu primeiro filme falado "The Virginian". Cooper serviu como um modelo de masculinidade americana por seus papéis que simbolizavam integridade e honestidade como em "O Galante Mr. Deeds" (1936), "Adorável Vagabundo" (1941) e "Sargento York", o último onde interpretou um personagem da vida real e ganhou um Oscar pelo trabalho. Cooper também foi um símbolo de beleza masculina recebendo muitas cartas de fãs mulheres desde o começo de sua popularidade no final dos anos 20. Com a nova fama do ator, ele apareceu em sete filmes no ano de 1930 e a continuidade desse sucesso entre o público o deu o poder de barganha de conseguir um salário semanal de $ 8.000 no seu estúdio, Paramount, além de também ter assinado um contrato de seis filmes com Samuel Goldwyn com garantia de $ 150.000 por filme; o tesouro americano revelou então que com ganhos de $482.819 (equivalente a $ 8.7 milhões atualmente), Cooper era o homem com maior salário no país. 





     
Bette Davis



    Bette Davis chegou em Hollywood exatamente no ano de 1930 após ter estreado na Broadway e ter aparecido em duas peças de sucesso no ano de 1929. Sua aparência que não se parecia com o que as estrelas de cinema remetiam às pessoas e causou rejeições por parte dos estúdios durante as suas primeiras tentativas de entrar na indústria cinematográfica. Porém, seus olhos marcantes a ganharam um contrato com a Universal, onde apareceu em dois filmes que não a trouxe nenhum reconhecimento antes do fim do seu contrato e a sua ida à Warner Bros., onde trabalharia durante as duas décadas seguintes. "Escravos do Desejo", lançado em 1934, foi o veículo que mostrou a grande atriz que Davis era. Após essa papel, a atriz acreditava que o seu estúdio lhe daria outros tão bons quanto, mas isso não aconteceu e decepcionada com os rumos da carreira Davis tentou processar o seu estúdio para sair do seu contrato e perdeu. Ainda assim ela voltou aos trabalho e em 1938 fez um dos seus papéis mais marcantes em "Jezebel" (1938), o que a tornou uma favorita do público para o papel de Scarlett O'Hara em "...E o Vento Levou" (1939) que ainda não tinha atriz escolhida. Ela não ganhou o papel, mas teve muito sucesso em 1939 com "Vitória Amarga", "The Old Maid", e "Meu Reino por um Amor", todos sucessos de bilheteria. Nesse ponto, Davis já era uma das atrizes mais rentáveis do seu estúdio e mais populares no país, situação que ainda permaneceu por muitos anos após o fim da década que primeiro lhe trouxe prestígio.



Marlene Dietrich



  Marlene Dietrich nasceu Marie Magdalene na Alemanha e deu a si mesma o nome Marlene combinando seu apelido "Lene" com a primeira sílaba do seu primeiro nome, provavelmente enquanto sonhava em ser violinista até uma lesão no pulso acabar com o seu futuro de instrumentista. Dietrich não desistiu das artes e começou a aparecer nos palcos berlinenses em espetáculos de estilo vaudeville. Sua ambição foi na direção da atuação, sendo o seu primeiro crédito cinematográfico datado de 1923, outros trabalhos em cinema e teatro seguiram ainda na cena alemã durante os anos 20. O primeiro passo para uma carreira internacional veio em 1929, aparecendo em "O Anjo Azul" do diretor Josef von Sternberg - a produção alemã teve sucesso internacional levando a atriz e o diretor para o estúdio Paramount, em Hollywood, que havia distribuído o filme nos Estados Unidos. Sua introdução ao cinema americano já foi em grande estilo aparecendo em "Marrocos" (1930), onde em uma cena controversa canta vestindo um smoking e beija uma mulher, apesar disso, o filme foi popular e ela ganhou sua única indicação ao Oscar pelo papel. A carreira de Dietrich continuou nos Estados Unidos em parceria com von Sternberg, produzindo os melhores nas carreiras de ambos até 1935, quando o diretor foi demitido da Paramount. A imagem de Dietrich capturada por von Sternberg se tornou marcante pela forma como o diretor conseguia usar jogo de luzes para acentuar os traços e as expressões faciais da atriz; a beleza e sensualidade "exóticas" da alemã - que foi a resposta da Paramount para o sucesso de Greta Garbo na MGM -  também a caracteriza como uma estrela com apelo a homens e mulheres, que queriam tê-la ou imitá-la. Após o fim da parceria com von Sternberg, Dietrich colocou em prática seus talentos cômicos em "Desejo" (1936) com Gary Cooper, que apesar na mudança de gênero também fez sucesso de público. Entretanto, seus filmes seguintes não fizeram tanto sucesso quanto os antecessores e a atriz entrou em uma lista dos donos de cinema como "veneno de bilheteria", junto a outros tantos atores famosos, alguns que se recuperariam e outros que não. A atriz não teve seu contrato com a Paramount renovado, mas ainda contou com popularidade principalmente tendo se envolvido nos esforços da Segunda Guerra Mundial durante os anos seguintes, aparecendo em turnês para entreter as tropas aliadas. Ela confessou mais tarde que oficiais do partido nazista queriam que ela voltasse para Alemanha a fim de se tornar uma grande estrela do cinema do terceiro Reich, o que ela recusou obtendo a cidadania americana depois - boatos dizem que Hitler havia sido um grande fã dela até ela passar a defender as forças aliadas. Após a guerra, Dietrich fez poucas aparições no cinema e passou a ser dedicar a uma carreira como cantora, tendo seu próprio show em Las Vegas durante a década de 50. 




Clark Gable



  "O Rei de Hollywood", Clark Gable, foi figurante em filmes mudos durante os anos 20 após atuar em algumas peças, para onde voltou após não conseguir papéis no cinema. Na Broadway, seu potencial como herói másculo foi reconhecido, o que o deu mais uma chance em Hollywood, para onde voltou no ano de 1930, quando a MGM lhe ofereceu um contrato. Seus papéis eram secundários e em grande parte vilões, o que não impediu que o público feminino se atraísse por ele e começasse a mandar cartas para o estúdio, que começou a lhe dar papéis principais. Eles descobriram logo que colocá-lo para fazer heróis românticos com as grandes estrelas, como Jean Harlow, rendia filmes muito lucrativos. O salto para o reconhecimento, porém, veio ao ser emprestado à Columbia para estrelar na comédia "Aconteceu Naquela Noite" (1935) com Claudette Colbert, interpretando um papel diferente dos outros onde interpretava conquistadores; segundo o diretor do filme, Frank Capra, mais parecido com a própria personalidade de Gable. Ele venceu o Oscar e "Aconteceu Naquela Noite" se tornou o primeiro filme a vencer em todas as principais categorias - Melhor Filme, Direção, Roteiro, Ator e Atriz. Voltando à MGM, Gable passou a ser protagonista inquestionável nos filmes. Ao final da década, já apelidado de "rei", conseguiu o seu papel mais famoso: o de Rhett Butler em "...E o Vento Levou", tendo sido o favorito entre os fãs do livro para o papel. A última fala de Gable como Butler se tornou uma das mais famosas da história do cinema: "Francamente, querida, eu não dou a mínima."



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Oscar 2019: Infiltrado na Klan


  A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas apresentou ao público os indicados à 90ª edição da sua premiação - o Oscar - no último dia 22. Entre os indicados a Melhor Filme - e às categorias de Melhor Diretor (Spike Lee), Melhor Ator Coadjuvante (Adam Driver), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Edição -, "Infiltrado na Klan" é o meu favorito. 
  O que também não significa que não haja grande qualidade técnica e artística em "Roma", o favorito para levar o prêmio de Melhor Filme e seu idealizador, Alfonso Cuarón, o de Melhor Diretor. Ou que "Nasce Uma Estrela" não seja um filme emocionante com uma música original já icônica e muito menos que "Pantera Negra" não seja um dos melhores filmes de super-herói de todos os tempos e um marco para a diversidade no cinema. 
  "Infiltrado na Klan" é mais uma obra do prestigiado diretor Spike Lee, de filmes como "Faça a Coisa Certa" (1989), "Ela quer tudo" (1986) e "Malcolm X" (1992), que surpreendentemente acaba de receber sua primeira indicação como diretor no Oscar. Apesar disso, não faltam homenagens aos trabalhos do diretor em sua carreira - "Infiltrado na Klan" estreou no Festival de Cannes do ano passado, vencendo o Grande Prêmio (apesar do nome é o segundo prêmio mais importante do festival, atrás da Palma de Ouro). 



  Baseado no livro "Black Klansman" de Ron Stallworth, o filme conta a história real vivida pelo seu autor, papel de John David Washington. Nele, Stallworth, como o primeiro policial negro na cidade de Colorado Springs, desenvolve um plano para a polícia se infiltrar no Ku Klux Klan (KKK), o histórico grupo racista dos Estados Unidos. Com a ajuda de um policial branco, interpretado por Adam Driver, se passando por um supremacista branco filiado ao KKK, a operação chega até o grande líder do grupo na época, David Duke, e faz importantes revelações a respeito das atividades da organização.
  Com a presença da personagem de uma ativista negra interpretada por Laura Harrier, o filme apresenta os grupos extremos: os supremacistas brancos e os que lutavam por direitos iguais; um retrato atemporal de uma história que se passa nos anos 70, mas poderia ser atualmente, na década de 50 ou no século XIX. A sociedade americana no filme acaba de sair do auge do Movimento dos Direitos Civis - com presença ainda dos panteras negras e de ícones como Angela Davis no entanto - onde o KKK renasce como resposta e um momento de polarização com essas ações e reações é instaurado. A linguagem já conhecida de Spike Lee vem como instrumento ideal para contar essa história, no momento certo, trazendo seu humor ácido, sem banalizar a discussão do tema seu tema principal, o racismo. Decididamente, o ponto alto do filme é a cena em que uma reunião do KKK é intercalada com cenas de um encontro de estudantes negros que ouvem um homem idoso (participação de Harry Belafonte) contar o caso de um garota negro que foi torturado e assassinado. Essa cena confronta o espectador quanto a que lado ele quer estar. Aí então, no final do filme, Spike Lee nos apresenta imagens reais dos recentes movimentos neonazistas nos Estados Unidos e o Black Lives Matter (lutam contra o racismo institucional, principalmente a brutalidade policial), como a prova viva da atemporalidade dos conflitos apresentados ali. 


  
  
    Apesar de não ser o favorito da cerimônia, "Infiltrado na Klan" é um dos filmes mais interessantes nessa temporada de premiações, em um momento onde a Academia finalmente está dando o reconhecimento merecido a Spike Lee, de forma atrasada mas ao menos tempo em um momento oportuno. Há três anos eu escrevi nesse blog nessa mesma época sobre a hashtag #OscarsSoWhite e esse ano tivemos "Infiltrado na Klan", "Pantera Negra" e "Podres de Rico", com representatividade que não se imaginava antes. Isso, porém, não é tudo, não pode ser, o caminho é logo e esse é só o começo.