segunda-feira, 8 de abril de 2019

Maiores estrelas do cinema por década: anos 30


  Dando a continuidade à série "Maiores Estrelas por Década", chegamos aos anos 30. Nesse momento os filmes falados estão em pleno vapor e muitos atores do teatro decidem testar a sorte nos filmes, também por causa, entre outras razões, das consequências da crise da bolsa de 1929 que esvaziou os teatros e fez alguns até se transformarem em cinemas! Alguns dos mais consagrados atores do cinema surgem nessa década devido a isso, elevando o padrão de atuação cinematográfica (ainda tida então como menos séria do que a teatral) e rendendo filmes memoráveis, como "...E o Vento Levou" (1939) e "Aconteceu Naquela Noite" (1935).

Greta Garbo


  "Eu quero ficar só", a frase mais associada a Garbo, dita no filme "Grande Hotel", foi muito associada à Garbo da vida real, talvez porque ela tenha decidido se aposentar aos 36 anos e se recolher da vida pública. Greta nasceu Greta Gustafsson na Suécia em 1905 e começou a fazer filmes em seu país natal até ser vista por Louis B. Mayer e levada aos Estados Unidos, onde após passar por uma transformação nas mãos da MGM que mudou o seu nome e a tornou o ícone de filmes lânguidos de romance ainda na década de 20 em filmes mudos. Já muito conhecida, a década de 30 começou para Greta com o seu primeiro filme falado, "Anna Christie", adaptação da peça de mesmo nome de Eugene O'Neill, com o slogan "Garbo fala!", o filme foi o mais bem sucedido nas bilheterias naquele ano e sedimentou a transição da atriz para os filmes falados ainda dando a ela a sua primeira indicação ao Oscar. Sua indicação também incluiu o seu trabalho no filme "Romance", lançado naquele mesmo ano (na época era possível um ator ser indicado por mais de uma atuação). Os sucessos iniciais nos filmes falados se repetiu com o seu icônico papel como uma espiã da vida real em "Mata Hari" (1931); e em"Grande Hotel" (1932) - primeiro filme a unir um grupo de estrelas no seu elenco: Joan Crawford, John Barrymore e Wallace Beery -; "Rainha Christina" (1932) - o primeiro do seu contrato renovado com a MGM que lhe garantiu um salário de $ 300.000 por filme, equivalente a $ 5.500.000 atualmente -; e "Anna Karenina" (1935) - onde sua interpretação foi aclamada-. Após essa série de sucessos, "Madame Walewska" foi o primeiro filme de Garbo a perder dinheiro à MGM. Visando mudar a imagem da atriz, os executivos do estúdio decidiram colocá-la em uma comédia, "Ninotchka", dessa vez sob o slogan "Garbo ri!", fazendo referência aos vários papéis melodramáticos que ela fez antes. A comédia foi bem sucedida com crítica e público nos Estados Unidos e no exterior, mas foi banida na União Soviética por retratar de forma negativa o regime de Joseph Stálin, tendo sido o primeiro filme hollywoodiano a fazê-lo. A década de 40 começou com o maior fracasso da atriz, a comédia romântica "Duas Vezes Meu!" (1941), a qual atriz chamaria depois de "minha sepultura". Apesar do insucesso do filme ter sido atribuído como determinante para a aposentadoria da atriz, ela não pensou em se aposentar logo após e aceitou outros projetos durante a década de 40, mas eles ou não iam para frente ou ela os abandonava; ela nunca mais apareceria em um filme apesar de continuar aceitando trabalhos periodicamente que depois abandonava. Quatro anos antes de sua morte em 1990, a atriz revelou que o motivo de sua aposentadoria foi por simplesmente não gostar de sua vida em Hollywood. 



Gary Cooper


  Gary Cooper, assim como Greta Garbo chegou à década de 30 já como um nome conhecido, apesar de ter se tornando um apenas em 1929 com o seu primeiro filme falado "The Virginian". Cooper serviu como um modelo de masculinidade americana por seus papéis que simbolizavam integridade e honestidade como em "O Galante Mr. Deeds" (1936), "Adorável Vagabundo" (1941) e "Sargento York", o último onde interpretou um personagem da vida real e ganhou um Oscar pelo trabalho. Cooper também foi um símbolo de beleza masculina recebendo muitas cartas de fãs mulheres desde o começo de sua popularidade no final dos anos 20. Com a nova fama do ator, ele apareceu em sete filmes no ano de 1930 e a continuidade desse sucesso entre o público o deu o poder de barganha de conseguir um salário semanal de $ 8.000 no seu estúdio, Paramount, além de também ter assinado um contrato de seis filmes com Samuel Goldwyn com garantia de $ 150.000 por filme; o tesouro americano revelou então que com ganhos de $482.819 (equivalente a $ 8.7 milhões atualmente), Cooper era o homem com maior salário no país. 





     
Bette Davis



    Bette Davis chegou em Hollywood exatamente no ano de 1930 após ter estreado na Broadway e ter aparecido em duas peças de sucesso no ano de 1929. Sua aparência que não se parecia com o que as estrelas de cinema remetiam às pessoas e causou rejeições por parte dos estúdios durante as suas primeiras tentativas de entrar na indústria cinematográfica. Porém, seus olhos marcantes a ganharam um contrato com a Universal, onde apareceu em dois filmes que não a trouxe nenhum reconhecimento antes do fim do seu contrato e a sua ida à Warner Bros., onde trabalharia durante as duas décadas seguintes. "Escravos do Desejo", lançado em 1934, foi o veículo que mostrou a grande atriz que Davis era. Após essa papel, a atriz acreditava que o seu estúdio lhe daria outros tão bons quanto, mas isso não aconteceu e decepcionada com os rumos da carreira Davis tentou processar o seu estúdio para sair do seu contrato e perdeu. Ainda assim ela voltou aos trabalho e em 1938 fez um dos seus papéis mais marcantes em "Jezebel" (1938), o que a tornou uma favorita do público para o papel de Scarlett O'Hara em "...E o Vento Levou" (1939) que ainda não tinha atriz escolhida. Ela não ganhou o papel, mas teve muito sucesso em 1939 com "Vitória Amarga", "The Old Maid", e "Meu Reino por um Amor", todos sucessos de bilheteria. Nesse ponto, Davis já era uma das atrizes mais rentáveis do seu estúdio e mais populares no país, situação que ainda permaneceu por muitos anos após o fim da década que primeiro lhe trouxe prestígio.



Marlene Dietrich



  Marlene Dietrich nasceu Marie Magdalene na Alemanha e deu a si mesma o nome Marlene combinando seu apelido "Lene" com a primeira sílaba do seu primeiro nome, provavelmente enquanto sonhava em ser violinista até uma lesão no pulso acabar com o seu futuro de instrumentista. Dietrich não desistiu das artes e começou a aparecer nos palcos berlinenses em espetáculos de estilo vaudeville. Sua ambição foi na direção da atuação, sendo o seu primeiro crédito cinematográfico datado de 1923, outros trabalhos em cinema e teatro seguiram ainda na cena alemã durante os anos 20. O primeiro passo para uma carreira internacional veio em 1929, aparecendo em "O Anjo Azul" do diretor Josef von Sternberg - a produção alemã teve sucesso internacional levando a atriz e o diretor para o estúdio Paramount, em Hollywood, que havia distribuído o filme nos Estados Unidos. Sua introdução ao cinema americano já foi em grande estilo aparecendo em "Marrocos" (1930), onde em uma cena controversa canta vestindo um smoking e beija uma mulher, apesar disso, o filme foi popular e ela ganhou sua única indicação ao Oscar pelo papel. A carreira de Dietrich continuou nos Estados Unidos em parceria com von Sternberg, produzindo os melhores nas carreiras de ambos até 1935, quando o diretor foi demitido da Paramount. A imagem de Dietrich capturada por von Sternberg se tornou marcante pela forma como o diretor conseguia usar jogo de luzes para acentuar os traços e as expressões faciais da atriz; a beleza e sensualidade "exóticas" da alemã - que foi a resposta da Paramount para o sucesso de Greta Garbo na MGM -  também a caracteriza como uma estrela com apelo a homens e mulheres, que queriam tê-la ou imitá-la. Após o fim da parceria com von Sternberg, Dietrich colocou em prática seus talentos cômicos em "Desejo" (1936) com Gary Cooper, que apesar na mudança de gênero também fez sucesso de público. Entretanto, seus filmes seguintes não fizeram tanto sucesso quanto os antecessores e a atriz entrou em uma lista dos donos de cinema como "veneno de bilheteria", junto a outros tantos atores famosos, alguns que se recuperariam e outros que não. A atriz não teve seu contrato com a Paramount renovado, mas ainda contou com popularidade principalmente tendo se envolvido nos esforços da Segunda Guerra Mundial durante os anos seguintes, aparecendo em turnês para entreter as tropas aliadas. Ela confessou mais tarde que oficiais do partido nazista queriam que ela voltasse para Alemanha a fim de se tornar uma grande estrela do cinema do terceiro Reich, o que ela recusou obtendo a cidadania americana depois - boatos dizem que Hitler havia sido um grande fã dela até ela passar a defender as forças aliadas. Após a guerra, Dietrich fez poucas aparições no cinema e passou a ser dedicar a uma carreira como cantora, tendo seu próprio show em Las Vegas durante a década de 50. 




Clark Gable



  "O Rei de Hollywood", Clark Gable, foi figurante em filmes mudos durante os anos 20 após atuar em algumas peças, para onde voltou após não conseguir papéis no cinema. Na Broadway, seu potencial como herói másculo foi reconhecido, o que o deu mais uma chance em Hollywood, para onde voltou no ano de 1930, quando a MGM lhe ofereceu um contrato. Seus papéis eram secundários e em grande parte vilões, o que não impediu que o público feminino se atraísse por ele e começasse a mandar cartas para o estúdio, que começou a lhe dar papéis principais. Eles descobriram logo que colocá-lo para fazer heróis românticos com as grandes estrelas, como Jean Harlow, rendia filmes muito lucrativos. O salto para o reconhecimento, porém, veio ao ser emprestado à Columbia para estrelar na comédia "Aconteceu Naquela Noite" (1935) com Claudette Colbert, interpretando um papel diferente dos outros onde interpretava conquistadores; segundo o diretor do filme, Frank Capra, mais parecido com a própria personalidade de Gable. Ele venceu o Oscar e "Aconteceu Naquela Noite" se tornou o primeiro filme a vencer em todas as principais categorias - Melhor Filme, Direção, Roteiro, Ator e Atriz. Voltando à MGM, Gable passou a ser protagonista inquestionável nos filmes. Ao final da década, já apelidado de "rei", conseguiu o seu papel mais famoso: o de Rhett Butler em "...E o Vento Levou", tendo sido o favorito entre os fãs do livro para o papel. A última fala de Gable como Butler se tornou uma das mais famosas da história do cinema: "Francamente, querida, eu não dou a mínima."