sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Maiores estrelas do cinema por década: anos 20



  A década de 1920 é um dos períodos mais referenciados culturalmente, as melindrosas, o corte bob, o jazz...A década ficou conhecida "Roaring Twenties" ou "Loucos Anos 20". Vários países do mundo viviam o êxtase do fim da Primeira Guerra Mundial e com a esperança de paz. Em Hollywood, foi uma época decisiva - no ano de 1927 o primeiro filme falado é lançado, "O Cantor de Jazz", mudando a indústria cinematograficamente mais rapidamente do que qualquer mudança tecnológica de antes ou que viria depois. Com isso, muitas estrelas que colheram sucesso no cinema mudo durante os anos 1910 e o começo dos anos 20 tiveram suas carreiras acabadas quando os estúdios não as julgaram adequadas para a nova forma de atuar no cinema, ou seus primeiros filmes falados não seguiram o sucesso de seus trabalhos da era do cinema mudo. Ainda assim, alguns atores e atrizes conseguiram superar a mudança e outros floresceram com ela; em tudo, a década de 20 foi mais uma em que o poder do cinema e de suas estrelas cresceram.

Clara Bow


  Clara Bow fez parte da primeira geração que teve o cinema incorporado a seu estilo de vida, adolescente na época em que estrelas como Mary Pickford e Lillian Gish estavam no auge, a jovem que cresceu em enorme pobreza em Nova York, onde nasceu no ano de 1905, começou a sonhar em ser atriz de cinema muito jovem. Com desaprovação da mãe e apoio do pai, ela venceu um concurso de beleza de uma revista onde o prêmio era uma pequena participação em um filme - do qual as suas cenas acabaram sendo cortadas para a enorme decepção da atriz de então 17 anos. Ela persistiu e ao estrelar no seu primeiro filme no ano seguinte, o sucesso foi imediato - Clara, sem nunca ter estudado atuação, era hipnotizante, sua presença na tela possuía um magnatismo que foi a marca de sua carreira. O filme "It" de 1927 daria a ela o apelido de "it girl", expressão popularizada pelos anos e muito usada atualmente. Devido à sua enorme popularidade, Clara conseguiu transitar com sucesso para os filmes falados; apesar disso, ela se aposentou em 1932, um anos após ter se casado e foi morar em um rancho. Ela interrompeu a sua aposentadoria e assinou um contrato para mais dois filmes quando o dinheiro faltou, após o lançamento do último deles em 1933, ela não fez mais nenhum filme. 
   

Buster Keaton




  Buster Keaton nasceu no ano de 1895 filho de artistas de vaudeville, o que o levou aos palcos aos três anos de idade. Aos 22 anos conheceu o comediante Roscoe "Fatty" Arbuckle, que na época trabalhava nos estúdios Talmadge; após tantos anos em vaudeville, Keaton não levava o cinema muito a sério, mas pediu uma câmera emprestado a Arbuckle para ver como era. O que aconteceu em seguida foi uma das melhores décadas de um ator de cinema; durante os anos 20, Buster Keaton produziu vários filmes de forma independente ganhando popularidade e prestígio entre críticos que o consideram até hoje um dos melhores comediantes das telonas de todos os tempos. Sua marca registrada era a sua "cara de pedra" - uma expressão facial que não mostrava nenhuma emoção. Se falava de uma rivalidade com Chaplin, o que levou o inglês a convidá-lo a fazer uma participação no seu filme "Luzes da Ribalta" (1952) quando os dois já tinham mais de 50 anos e Keaton voltava a participar de filmes depois do ostracismo da década de 40 - decorrente da escolha de assinar com os estúdios MGM, o que baixou a qualidade de seus filmes e papéis. Nesse mesmo período de retorno, ele também teve uma pequena participação em "Crepúsculo dos Deuses" (1951), como ele mesmo.


Rudolph Valentino


Rudolph Valentino foi o primeiro astro de Hollywood a ter uma legião de seguidoras. O italiano foi morar nos Estados Unidos aos 18 anos por não conseguir encontrar emprego em sua terra natal. Após se estabelecer como professor de dança de Nova York, teve problemas devido a um suposto caso com uma mulher casada que resultou em sua prisão (provocada pelo influente marido da mulher) e por ela ter assassinado o marido após, o que fez Valentino deixar Nova York para evitar testemunhar em um julgamento midiático. Na Califórnia ele conheceu o ator Norman Kerry, que o aconselhou a tentar uma carreira no cinema. No começo de sua carreira cinematográfica, o ator ficou relegado a personagens vilanescos; o maior galã da época era Wallace Reid com sua aparência de típico homem americano. Aos poucos Valentino conseguiu seu espaço, principalmente com a ajuda da roteirista June Mathis, que escreveu muitos dos seus filmes. O ator italiano ainda interpretou muitos personagens hispânicos e árabes com características grosseiras, o que não impediu o crescimento de sua popularidade. Com a sua celebridade, Valentino conquistou o público feminino americano, mas continuava sendo um tipo que os homens não queriam imitar (apesar de acabarem copiando as tendências que o astro italiano lançou como o cabelo puxado para trás com gel).
Entretanto, tudo acabou repentinamente quando no ano de 1926, Valentino aos 31 anos teve uma ulcera e após cirurgiado uma peritonite, provocando a sua morte inesperada. As fãs ficaram arrasadas, até houve relatos de suicídios e seu velório atraiu uma multidão. Ele foi um dos primeiros atores famosos do cinema a morrer ainda no seu auge.
Em sua curta carreira, Valentino fez filmes bem-sucedidos e outros nem tanto, teve de ficar longe do cinema por problemas com o seu estúdio - Famous Players-Laky, precursor da Paramount -, mas ainda assim é um dos atores do cinema antigo mais lembrados, com filmes retratando a sua história - o mais notável deles de 1977 com o bailarino Rudolf Nureyev interpretando Valentino - menções em obras da cultura popular e homenagens, principalmente em sua cidade natal, Catellaneta. Lá existe uma estátua do ator, um museu, uma fundação, uma escola de cinema e um prêmio de atuação, que não existe mais mas ao longo dos anos foi entregue a atores como Leonardo DiCaprio e Elizabeth Taylor.

Harold Lloyd


  Harold Lloyd, junto a Charlie Chaplin, Buster Keaton e a dupla Laurel e Hardy (O gordo e o magro na versão brasileira) era um dos atores cômicos mais famosos do cinema nos anos 20. Ele é lembrado pelo personagem que criou, um homem de óculos e chapéu sempre esforçado, o que representava o sentimento dos americanos naquela década. Lloyd, no entanto, não começou no cinema nos anos 20, mas na década anterior com um personagem muito similar ao Carlitos de Chaplin e outros personagens cômicos da época. Foi na década de 20 que seu personagem famoso estreou no cinema. Hoje, a figura de Lloyd é associada principalmente às manobras arriscadas que fazia nos filmes, muitos feitas sem dublê. O ator inclusive sofreu um acidente em 1919 enquanto fotograva fotos promocionais, com a explosão de uma bomba cinematográfica enquanto tentava usá-la para acender um cigarro; ele perdeu dois dedos, teve queimaduras graves no rosto e no peito, mas manteve a visão e conseguiu continuara  fazer filmes com ajuda de uma luva. Seus filmes eram muito bem-sucedidos, o que o tornou uma das pessoas mais ricas em Hollywood na época e ele chegou a ter seu próprio estúdio (o qual ele teve que vender em 1937 quando seu sucesso diminuía, levando-o a se aposentar na década de 40). Lloyd foi redescoberto na década de 60 e após a sua morte em 1971, teve seus filmes vendidos e adaptados para a televisão, suas obras cativam o público até hoje. 

Louise Brooks




  Louise Brooks é uma das atrizes dos anos 20 que melhor representa e cuja imagem é mais associada à da melindrosa. Junto a Colleen Moore, a atriz ajudou a popularizar o penteado conhecido como corte "bob". Ela começou a aparecer em filmes com papéis pequenos em 1925 e logo prosseguiu para papéis maiores, mas acabou deixando o seu estúdio, Paramount, por não ter recebido um aumento salarial prometido ainda no final da mesma década, uma escolha que anos depois seria vista como imprescindível para a marca que sua carreira deixaria no cinema. Nos anos de 1929 e 1930 ela fez os seus filmes mais famosos na Europa, participando de filmes expressionistas alemães como "A Caixa de Pandora", "Diary of a Lost Girl" ("Tagebuch einer Verlorenen" no título original, sem versão brasileira) e "Miss Europe" filmado na França. Neste período, Paramount tentou persuadi-la a voltar para Hollywood para fazer filmes falados (ela tinha feito um no mesmo estúdio antes de partir para a Europa), mas a atriz não se convenceu, o que a colocou na lista negra do cinema americano. Com sua volta para Hollywood em 1931, os papéis eram escassos e após ter rejeitado um papel principal para ir a Nova York visitar uma amante, sua carreira acabou de vez. Ela se aposentou poucos anos depois e até tentou uma volta em 1936, o que não a levou a mais filmes. Como outros grandes atores de sua época, foi redescoberta décadas depois e escreveu um livro de memórias três ano ano antes de sua morte em 1982. Ela disse durante toda a sua vida que odiava Hollywood. 


Gloria Swanson


  "Estou preparada para o meu close", é a fala que mais marcou Gloria Swanson, assim como a personagem que a proferiu, Norma Desmond em "Crepúsculo dos Deuses" (1950), considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. É fácil esquecer que 20 anos antes, a atriz foi tão bem-sucedida quanto a sua personagem havia sido em "Crepúsculo dos Deuses". Swanson, diferente de muitas atrizes do cinema, não sonhava em estar nas telonas em sua infância e adolescência, mas estreou logo cedo quando visitou os Estúdios Essanay em Chicago com uma tia e ganhou um papel como figurante, o que levou a mais participações como figurante. Ela decidiu, com apenas 17 anos em 1916, se mudar para a Califórnia, onde começou a trabalhar com Mack Sennett nos Estúdios Keystone. Lá ela primeiro encontrou popularidade contracenando com o ator cômico Bobby Vernon. Em 1919, assinou um contrato com a Paramount, onde começou a trabalhar com Cecil B. DeMille em uma parceria que seria muito bem-sucedida. Sendo assim, já no começo dos anos 20, ela se tornou uma das atrizes mais requisitadas e populares, a ponto de ser recebida de volta nos Estados Unidos com uma grande parada quando voltava de uma breve residência na França após o seu casamento com um marquês em 1925.
  Sendo muito valiosa para o seu estúdio, a atriz recusou uma oferta de um milhão de dólares por ano da Paramount (equivalente a 13 milhões de dólares atualmente) para integrar o recém-formado United Artists, fundado por um grupo de profissionais da indústria cinematográfica que incluía Charlie Chaplin. Lá ela passou a ter liberdade para escolher os temas do seus próprios filmes e com quem trabalhar. O primeiro filme produzido por ela mesma passou por dificuldades na sua produção e não foi bem-sucedido, porém o segundo, "Sadie Thompson" (1928), se tornaria o seu filme mudo mais famoso. Ele também não foi feito de forma tranquila, baseado em um conto chamado "Rain" do escritor W. Somerset Maugham, o enredo era considerado polêmico por se tratar de uma missionário que conhece uma prostituta na ilha da Samoa Americana e tenta "resgatá-la" com um desfecho trágico. Um primeiro anúncio sobre o filme em um jornal causou revolta, apesar disso, o filme foi feito e estreou com enorme sucesso de público e crítica. Após esse êxito, Swanson permaneceu em destaque com alguns filmes falados, mas durante a década de 30 deixou de estar em voga, ela partiu para o então novo meio da TV e só voltou a brilhar nas telonas com a lendária Norma Desmond. 

domingo, 28 de outubro de 2018

Das páginas para a tela: O Sol é Para Todos




  "O Sol é Para Todos" é um dos maiores clássicos da literatura americana, além de ser um dos livros mais populares sobre racismo e desigualdade. Escrito por Harper Lee e publicado em julho de 1960, o livro virou instantaneamente um sucesso de vendas e por isso não demorou muito para ser feita uma versão cinematográfica, lançada em 1962.
  Na história, narrada pelo ponto de vista de uma criança - Scout Finch - o julgamento de um negro acusado de estupro por uma mulher branca movimenta uma pequena cidade fictícia no estado do Alabama. O pai de Scout, o advogado Atticus Finch, defende o réu - Tom Robinson. Atticus é interpretado por Gregory Peck no filme, onde teve atuação muito celebrada. O personagem até hoje é uma referência para advogados e foi escolhido pela Instituto Americano de Cinema (American Film Institute) como o melhor herói do cinema do século XX.


  A história é vista como autobiográfica apesar da autora Harper Lee não considerá-la uma e sim um exemplo de que "um autor deve escrever sobre o que ele conhece e fazê-lo com veracidade". Os elementos que apoiam essa visão são: o pai de Lee ter sido um advogado que defendeu dois negros condenados por assassinato em 1919; o autor Truman Capote ter sido seu amigo de infância e associado ao personagem Dill do romance; seu irmão Edwin ser a inspiração de Jem, irmão de Scout no livro; e a sua cidade Monroeville ser a inspiração para a fictícia Maycomb onde se passa "O Sol é Para Todos". Muitos casos de injustiça racial na década de 50 nos Estados Unidos, inclusive o ato de desobediência civil de Rosa Parks, foram apontados como inspiração para o livro de Lee - que apesar de se passar na década de 30, dialogava muito mais com o que acontecia nos EUA nas décadas de 50 e 60. A autora apontou o caso do jovem Emmett Till, linchado por supostamente flertar com uma mulher branca, como inspiração para o de Tom Robinson no seu enredo.


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  O filme de "O Sol é Para Todos", dirigido por Robert Mulligan também foi um sucesso imediato. Foi indicado a 8 prêmios Oscar, do qual venceu três, incluindo Melhor Ator para Peck. Mary Badham que interpretou Scout foi indicada na categoria Melhor Atriz Coadjuvante com apenas 10 anos. 
  As cenas do tribunal no filme foram feitas em um set inspirado na corte da cidade de Monroeville (não foi possível gravar na corte original devido à má acústica), mas ficou tão perecido com a original que vários conterrâneos de Lee, do Alabama, acharam que o filme tinha sido gravado lá. Hoje o local é um teatro onde várias encenações de "O Sol é Para Todos" já foram produzidas.
  Mas por que "O Sol é Para Todos" é tão especial? Porque evoca várias situações de injustiça vistas pelo olhar de uma criança. Ele mostra como o preconceito consegue entrar na cabeça das pessoas, boas e más, sendo necessário se despir dos seus preconceitos através do olhar de uma criança para enxergar as situações de injustiça onde, no exemplo de Atticus, a razão e a justiça não vencem por causa de uma cultura impregnada de preconceitos. 
  Neste mês, o livo foi selecionado em uma pesquisa realizada pela rede de TV americana PBS como o livro mais amado nos Estados Unidos.

Antiga Corte de Monroeville.

sábado, 22 de setembro de 2018

Vândalo Americano


Vândalo Americana é uma série original da Netflix lançada em 2017 no estilo mockumentary (um documentário fictício cômico), a série teve a segunda temporada lançada na plataforma semana passada. Seguindo a popularidade de séries documentais sobre crimes (muitas inclusive produzidas pela Netflix), a série acompanha dois adolescentes que decidem investigar dois casos diferentes (um na primeira e outro na segunda temporada) de vandalismo em ambiente escolar produzindo um documentário, inspirados pelas narrações de crime real como Serial, Making a Murderer e The Jinx.

Na primeira temporada, os personagens principais- Peter (Tyler Alvarez) e Sam (Griffin Gluck)- investigam um caso que aconteceu na sua própria escola, o da pichação de desenhos de pênis em 27 carros que estavam no estacionamento da instituição. O estudante Dylan Maxwell que já tinha reputação de encrenqueiro e era conhecido pelos desenhos de pênis foi responsabilizado e expulso da escola, porém Pete e Sam percebem que as circunstâncias do crime ainda deixam dúvidas a respeito da culpa de Dylan. 



Já na segunda temporada, Peter e Sam, que se tornaram conhecidos pelo documentário investigativo sobre o caso de Dylan decidem investigar os crimes cometidos em uma escola diferente por uma entidade virtual chamada "Merdolino", em que várias "pegadinhas" envolvendo fezes foram feitas e postados em uma conta do Instagram; aqui também muitas dúvidas a respeito da culpa do aluno penalizado instigaram Peter e Sam a começar essa investigação.

O que a série faz: consegue ser muito cômica e original ao mesmo tempo que retrata temas atuais como as redes sociais e exposição na internet melhor do que qualquer filme ou série nos últimos anos. Os atores têm idades apropriadas para interpretar adolescentes e fazem bem seus papeis. A primeira temporada é mais engraçada, mas a segunda aprofunda mais nos seus temas e tem mais reviravoltas. Questões como bullying e cultura adolescente são tratadas de forma muito mais realistas do que  em outros filmes e séries ambiente no ensino médio sendo a segunda temporada um relato dos temas de solidão, insegurança e o uso das redes sociais nesse contexto.

                                               
Uma das coisas que mais produz efeito cômico é a contradição de crimes ridículos com a seriedade com que os personagens documentaristas buscam a verdade neles. Dessa forma também, "Vândalo Americano" é capaz de produzir mistérios que são dignos das séries que parodia e de grandes histórias de crime fictícias à la Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle - Peter e Sam já foram até comparados com Sherlock Holmes e Dr. Watson como versões mais jovens dos personagens. Porém, Peter e Sam não são os únicos trunfos da série, Dylan Maxwell (Jimmy Tatro) na primeira temporada, Kevin McClain (Travis Tope) e DeMarcus Tilllman (Melvin Gregg) na segunda se destacam como personagens típicos mas não estereotipados, além de outros personagens mais secundários que conseguem roubar a cena gerando risadas.

Também deve-se destacar que o sucesso da segunda temporada (apesar de um começo lento nos primeiros episódios) mostra que os criadores Tony Yacenda e Dan Perrault justificaram a decisão da Netflux de dar continuidade à bem recebida primeira temporada. Assim, apesar de uma terceira temporada não ter sido confirmada, podemos esperar dos criadores continuações futuras no mesmo nível de qualidade das primeiras duas histórias contadas.


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Maiores estrelas do cinema por década: anos 1910



  Nos anos 1910, o cinema, apesar de jovem, já tinha algumas décadas de vida e já era um conhecido, fazendo parte da vida das pessoas em várias partes do mundo. No entanto, só foi a partir dos anos 1910 que um elemento muito conhecido da indústria cinematográfica passou a fazer parte dela: as estrelas de cinema.
  Antes disso, os atores nem eram creditadas com seus próprios nomes, para não lhes dar mais poder e fazê-los cobrar salários mais altos. Mas mesmo sem saber os seus nomes, o público se apegava aos atores e quando os produtores da época descobriram a vantagem de se ter uma "estrela" para atrair público, elas nunca mais deixaram de existir. Mesmo com várias mudanças: o cinema falado, a TV, o fim do sistema de estúdios.., até hoje nomes como Jennifer Lawrence, Emma Stone, Tom Cruise e Brad Pitt atraem atenção e são reconhecidos globalmente.

Florence Lawrence


  Nós não podemos começar essa história sem falar de Florence Lawrence. Apesar de não ser um nome muito lembrado na história do cinema, Lawrence é considerada a primeira estrela de cinema de todas. Conhecida a princípio como a "Garota Biograph" (nome pelo qual Mary Pickford também foi conhecida por um tempo, de quem discutiremos a seguir) sendo Biograph o nome do estúdio em que ela trabalhava. Apesar da insistência do público em saber o nome da "Garota Biograph", o estúdio insistia em manter seu nome no anonimato. Essa situação só mudou quando o futuro fundador dos estúdios Universal, Carl Laemmle, a convenceu a abandonar o Biograph pelo estúdio que ele tinha acabado de criar, o Independent Moving Pictures Company. No novo emprego, Lawrence não teve apenas seu nome divulgado, Laemmle espalhou uma notícia falsa de que a "Garota Biograph" havia morrido em um acidente automobilístico, ele mesmo desmentiu a história com um anúncio nos jornais em que ainda informava que Lawrence estava trabalhando em um novo filme sob a sua produção. Lawrence e Laemnle fizeram uma aparição na cidade americana de St. Louis para provar que a atriz estava viva e bem, a visita atraiu enorme atenção do público inclusive espalhando o boato de que o público havia rasgado as roupas de Lawrence. Ainda no meio da década, a fama da atriz começou a diminuir e ela morreu de um aparente suicídio em 1938, aos 52 anos, vivendo de forma modesta, apesar da pequena fortuna que ela ganhou durante o seu auge, e fazendo papéis não creditados para se sustentar. 

Mary Pickford


  Mary Pickford nasceu no Canadá e começou a trabalhar em teatro ainda criança, assim como Florence Lawrence (em ambos aspectos). A família Pickford foi para os Estados Unidos com o objetivo de que os três filhos trabalhassem na Broadway. Após muitas dificuldades, Mary conseguiu fazer um teste com o visionário diretor D.W. Griffith no estúdio Biograph e logo conseguiu um contrato. Naquele ano, em 1909, ela apareceu em 51 filmes (todos curta-metragens). Suas produções nos anos de 1913 e 1914 - já por um estúdio diferente, o Famous Players in Famous Plays de Adolph Zukor, que seria conhecido depois como Famous Players-Lasky e mais posteriormente se tornaria o estúdio Paramount - criaram um grupo de seguidores da performer, o que a tornou a atriz mais famosa nos Estados Unidos no meio da década, tendo seu nome acima dos títulos dos filmes nos cartazes. O prestígio entre público e crítica na época só se comparava ao de Chaplin e ambos, juntos a D.W. Griffith e o futuro marido de Pickford, Douglas Fairbanks, fundaram a produtora United Artists. A fama da atriz continuou na década de 20 e ela foi uma das estrelas do cinema mudo que sobreviveu à transição para o cinema falado, tendo sido a segunda atriz a vencer um Oscar de Melhor Atriz no final da década de 20 (ela também fez parte da criação da Academia de Artes Cinematográficas, responsável até hoje pela entrega do Oscar). O bom senso para os negócios que ela tinha a permitiu continuar trabalhando na produção de filmes após se aposentar da frente das câmeras em 1933; durante a sua carreira como atriz, Pickford negociava seus salários se baseando no lucro que eles geravam o que a fez acumular uma considerável fortuna.

Douglas Fairbanks



  Douglas Fairbanks chegou a ser chamado no auge da sua popularidade de "rei de Hollywood", "título" que seria passado para Clark Gable posteriormente. Com o seu casamento com Mary Pickford surgia o primeiro casal celebridade do cinema que juntos eram chamados de "realeza de Hollywood". Fairbanks como muitas outras estrelas do cinema mudo começou a trabalhar no teatro ainda na infância; quando chegou em Hollywood em 1915 sua fama cresceu rapidamente, se tornando o ator mais conhecido em 1918. Seus primeiros papéis no cinema eram cômicos, mas o seu porte atlético o levou a interpretar os personagens heroicos que o tornaram mais famoso - como Zorro e Robin Hood. Diferente da sua esposa, Fairbanks não conseguiu transitar para os filmes falados no final dos anos 20, as limitações técnicas na captação do áudio limitavam as cenas de ação pelas quais ele era famoso, o que somado a problemas de saúde o fez se aposentar das telonas em 1934. Quando ainda contava com grande popularidade, fundou a Academia de Artes Cinematográficas com Mary Pickford, antes de se separarem; ele foi o primeiro presidente da Academia e o primeiro apresentador de uma cerimonia do Oscar (que ainda não era conhecida por esse nome, apenas Prêmios da Academia) no ano de 1929. Longe dos filmes e com saúde debilitada, Fairbanks morreu em 1939, aos 56 anos.

Charlie Chaplin



  Charlie Chaplin poderia configurar em várias listas como essa, pois ele continuou sendo uma grande estrela nas décadas seguintes; mas foi nos anos 1910 que ele primeiro se destacou. Vindo do teatro onde já se destacava pelo talento cômico, Chaplin conseguiu um contrato com os estúdios Keystone após uma sequência de turnês pelos Estados Unidos com a companhia teatral da qual ele fazia parte. Com o lançamento do seu curta de estreia no cinema, Chaplin, insatisfeito com o resultado,  criou o personagem "O vagabundo" (do original inglês "The Tramp", adaptado para o português como Carlitos), aparecendo pela primeira vez nas telonas em dois curtas lançados com dois dias de diferença em 1914: "Carlitos no hotel" e "Corrida de automóveis para meninos". O sucesso foi imediato e a demanda de exibidores por mais filmes de Chaplin, somado aos problemas que o ator tinha com os diretores, deu a ele a liberdade de passar a dirigir os próprios filmes. No ano seguinte, com um novo estúdio e mais filmes lançados - onde o personagem do Vagabundo se desenvolvia e adquiria as características que o tornou conhecido - Chaplin se tornou um grande fenômeno, descrito na época como uma "mania"; bonecos do vagabundo eram vendidos, as pessoas se fantasiavam como ele e havia concursos de imitação do personagem. O apelo de Chaplin, tornando-o a primeira celebridade do cinema a atingir fama internacional, fez o contrato com o seu terceiro estúdio lhe render um milhão de dólares, equivalente a 19 milhões atualmente, um salário inimaginável na época. Seu primeiro longa só viria na década de 20, mas no resto dos anos 1910 ele continuou fazendo curtas considerados cada vez mais sofisticados para os padrões cinematográficos de então.

Chaplin com um boneco d'O Vagabundo em 1916.

Theda Bara


  Theda Bara é a atriz que define um tipo de femme fatale do cinema mudo chamada "vamp", curto para vampire (vampiro(a)). As personagens de Bara eram exóticas e misteriosas, com várias mentiras sobre a vida da atriz sendo espalhadas pelos publicitários do estúdio, como a de que ela tinha vivido no deserto do Sahara quando criança, para aumentar o interesse do público por Bara. A atriz era incentivada a encarnar misticismo e ocultismo nas suas entrevistas e, apesar da origem do seu nome artístico ser disputada (seu nome de nascença era Theodosia Goodman), uma das hipóteses é que um diretor de cinema descobriu que o seu apelido de infância era Theda e ela tinha um parente com sobrenome Barranger, sendo a combinação Theda Bara um anagrama para "morte árabe" (arab death). O papel que a tornou um ícone foi o de Cleópatra em uma produção de mesmo título do ano de 1917. Theda ainda fez outros filmes, na maioria como personagens vamp, após o sucesso de Cleópatra, mas, cansada dos mesmos personagens, voltou brevemente ao teatro (onde havia começado a sua carreira) em 1920 e fez seu último filme em 1924 - onde parodiou da sua imagem de vamp. Bara aparecia em roupas reveladoras em seus filmes e por isso também é considerada a primeira sex symbol do cinema. Um incêndio destruiu a maioria dos seus filmes ano de 1937, quase todos são considerados perdidos, até "Cleopatra", do qual, no entanto, algums fragmentos sobreviveram e podem ser encontrados no Youtube. 

Sessue Hayakawa


    Sessue Hayakawa nasceu no Japão em 1886; após sua ambição de seguir uma carreira na marinha japonesa (mais por uma imposição familiar) ser destruída por uma lesão no ouvido, Hayakawa tentou cometer seppuku - uma forma de suicídio japonesa - mas foi salvo pelo cachorro da família, que chamou a atenção dos seus pais e o pai de Hayakawa arrombou a porta de onde o filho estava. O novo desejo de sua família para ele era que se tornasse banqueiro e o jovem foi estudar economia política na Universidade de Chicago. Após o fim dos seus estudos, Hayakawa passou por Los Angeles, de onde estava programado para pegar um navio de volta para o Japão, quando conheceu o Teatro Japonês em Little Tokyo (um distrito da cidade) e acabou ficando por lá, decidido a seguir uma carreira de ator. Um produtor foi chamado para vê-lo em cena e lhe ofereceu um contrato para um filme, onde ele se destacou e o levou a um contrato com o futuro estúdio Paramount - na época, Famous Players-Lasky. Hayakawa virou um sex symbol e ídolo romântico, apesar de uma lei segregacionista da época proibir que atores de raças diferentes se beijassem em um filme, o que fazia o ator japonês sempre interpretar uma segunda opção para mocinhas caucasianas que no final percebiam que o branco americano era uma opção mais segura ou amantes proibidos, esses personagens, muitas vezes, também se revelavam como homens maus e perigosos.  Mesmo assim e para a preocupação de alguns setores da sociedade, Hayakawa passou a ter uma grande base de fãs constituída principalmente por mulheres brancas.
  Da métade para o final dos anos 1910, o ator já tinha enorme popularidade, rivalizando com Charlie Chaplin e Douglas Fairbanks e ganhando dois milhões de dólares por ano. No começo dos anos 20, Hayakawa deixou Hollywood cansado dos personagens estereotipados e foi fazer filmes no Japão e na Europa, ele ainda voltou a trabalhar em Hollywood na década de 30 e teve uma carreira longa com filmes bem-sucedidos até se aposentar na década de 60. Eu consegui assistir um dos seus filmes - "The Cheat" (1915), um dos primeiros sucessos - que está disponível no Youtube; nele, o ator interpreta um empresário japonês que ajuda uma socialite americana com um problema e depois se torna o vilão do filme. Nesse filme, é possível ver todos as características típicas dos seus personagens: o charme, um triângulo amoroso com um casal branco e a vilania. O filme pode parecer chato em alguns momentos para quem está acostumado com os filmes atuais ou até filmes da Hollywood antiga feitos posteriormente com mais recursos técnicos, mas ele ainda consegue ser envolvente e tem um final surpreendente.

Hayakawa em "The Cheat".

Lillian Gish




  Lillian Gish e sua irmã Dorothy tiveram seus destinos mudados quando, após se mudarem para Nova York, a sua vizinha Mary Pickford (prestes a se tornar famosa) apresentou as irmãs, que já haviam aparecido em várias peças teatrais, a D.W. Griffith, um dos diretores mais importantes do cinema mudo. Ambas estrearam juntas em um curta de Griffith chamado "An Unseen Enemy" em 1912. Apesar de Dorothy também ter se tornado uma grande atriz, Lillian foi favorecida por Griffith , que preferia as suas qualidades dramáticas às cômicas de sua irmã. No resto da década, a atriz apareceu em alguns dos filmes mais famosos de Griffith, incluindo "O Nascimento de uma Nação"(1915) e "Intolerância"(1916), dois filmes que entraram para a história do cinema pelas realizações tecnológicas (principalmente quanto à edição e ditando os longa-metragens como foco do cinema comercial hollywoodiano) e também pela controvérsia dos seus temas, sendo o primeiro uma exaltação do Ku Klux Klan (KKK). Após o fim de sua associação com Griffith em meados da década de 20, ela assinou um contrato com o recém-formado estúdio MGM, onde logo perdeu espaço para as estrelas que surgiam, como Greta Garbo, em uma época onde as personagens etéreas e pueris que marcaram a sua carreira e a de Mary Pickford se tornaram antiquadas face ao surgimento das melindrosas personificadas em estrelas como Louise Brooks, Clara Bow, Kay Francis e Joan Crawford. Lillian voltou ao teatro, sua primeira paixão e onde tinha feito alguns trabalhos durante o seu sucesso cinematográfico, e continuou aparecendo em filmes esporadicamente por quase toda a sua vida. 
  


sexta-feira, 20 de julho de 2018

Maldito Futebol Clube



"Maldito Futebol Clube" (2009) é ao mesmo uma das únicas cinebiografias e um dos únicos filmes de esporte que eu gosto, e o melhor filme sobre futebol que eu já vi. O filme, dirigido por Tom Hooper antes do sucesso com "O Discurso do Rei" (2010), é baseado no livro de mesmo nome do autor David Peace, narrando a passagem mal-sucedida do técnico Brian Clough pelo Leeds United na década de 70 após seu sucesso com o pequeno clube Derby torná-lo famoso.

Interpretado por Michael Sheen, Clough é um dos técnicos mais famosos da história do futebol inglês, lembrado muitas vezes em associação a Robert Taylor, interpretado no filme por Timothy Spall, seu auxiliar técnico no Derby. Juntos, eles tiraram o Derby das últimas posições da segunda divisão e o levaram ao campeonato da primeira. Mas se separaram quando Clough aceitou o emprego no Leeds.



O livro do qual o filme se baseou não teve apoio da família Clough, que também não cooperou com o filme; alguns eventos do livro são contestados e foram considerados difamatórios, o filme, no entanto, amenizou o tom do livro. 

O filme descreve uma admiração e richa que Clough tinha com Don Revie, seu antecessor no cargo de técnico no Leeds que deixou o clube para dirigir a seleção da Inglaterra. Clough se identificava com Revie por terem nascido na mesma cidade e jogado no mesmo time (não ao mesmo tempo) enquanto jogadores, mas era um forte crítico do estilo violento e desonesto de jogo do Leeds e da liderança de Revie. Tanto que, antes de assumir como técnico no Leeds, disse em entrevista, o que é retratado no filme, que os jogadores do Leeds podiam "jogar suas medalhas no lixo, porque elas não foram conquistadas de maneira justa".



Uma das razões do filme funcionar tão bem é porque ele não quer contar a história de vida do seu personagem desde que ele nasceu, ele faz recortes de dois momentos da longa carreira de Clough: como técnico do Derby e do Leeds, essa escolha normalmente faz filmes sobre pessoas reais serem bons. Apesar do filme perceptivelmente dramatizar a história além dos fatos, a personalidade excêntrica de Clough já rende bons momentos para o filme, como a sua estratégia "Jânio Quadros" de pedir demissão do Derby na esperança de se chamado de volta (assim como Jânio, não deu certo). O filme é cômico na medida certa com boas atuações dos atores principais - Sheen, Spall e ainda Jim Broadbent como o presidente do Derby. Sheen torna Clough multifacetado, apesar de fazer escolhas questionáveis, é possível entender a sua ambição, e respeitá-lo mesmo com as suas atitudes questionáveis.

Assim como alguns outros filmes sobre esportes conseguem empolgar por representar o esporte de forma semelhante a como assistimos ou até mesmo como é visto por quem o pratica, a exemplo da patinação em "Eu, Tonya" (2017), o boxe em "Touro Indomável" (1980) e em "Creed" (2015), "Maldito Futebol Clube" consegue transmitir o nervosismo e o delírio do esporte. Uma cena marcante é quando Clough, ainda no Derby, ganha uma suspensão e fica no vestiário durante o jogo, ele ouve a torcida comemorar um gol e não sabe de qual time foi, só quando o jogo termina e o time aparece com sorrisos que ele descobre o resultado.






sexta-feira, 8 de junho de 2018

Persona e o Surrealismo


  A marca do surrealismo pode ser definida, simplisticamente, como a presença de elementos diversos e muitas vezes inusitados colocados de uma forma que não parece coerente. O filme “Quando Duas Mulheres Pecam” (1966), “Persona” no título original, de Ingmar Bergman, tira influência no movimento surrealista- cujo auge ocorreu 40 antes antes do seu lançamento com filmes como "Um Cão Andaluz", feito por Luís Buñuel em parceria com Salvador Dalí- para contar a história de duas mulheres: Elisabet, uma atriz afetada por uma mudez súbita e Alma, a enfermeira responsável por seus cuidados. Reclusas em uma casa de praia para a recuperação de Elisabet, o isolamento das personagens as torna quase as únicas do filme, o que já contribui para o surrealismo no filme, considerando que o isolamento de personagens no cinema frequentemente traz o desenvolvimento de um estado psicótico nos personagens, como em “O Iluminado” (1980), de Stanley Kubrick, ou o acontecimento de algo extraordinário, fantástico.


"Um Cão Andaluz" (1929)

  No começo do filme, há uma sequência de imagens- uma ovelha sendo morte, a mão de Jesus sendo crucificada e um pênis ereto- que são aparentemente desconexas. A deteriorização do estado de saúde de Elisabet, retratado no começo do filme, também é inusitada; a perda da voz da personagem é apresentada como algo repentino e sem uma explicação médica definida, que ocorre durante uma encenação da tragédia grega “Elektra”, o que é seguido de uma piora para um estado semi-catatônico. O que poderia parecer mais com sintomas médicos se torna algo enigmático na ausência de uma explicação racional.



  Na casa de praia, onde se passe a grande parte do filme, Alma encontra em Elisabet a confidente perfeita. Enquanto a sua saúde evolui, a mudez de Elisabet persiste e sua presença silenciosa permite a Alma a liberdade de revelar seus pensamentos mais íntimos e segredos mais profundas- como a memorável cena em que ela descreve uma orgia de qual participou em uma praia e um aborto que fez. O silêncio de Elisabet é como o de um psicanalista junguiano, que ouve seu paciente sem julgamento. Apesar de confortante, o silêncio de Elisabet passa a angustiar Alma também e a segunda passa a confrontar a primeira, sendo capaz de desvendar os segredos da atriz também.



  A situação culmina para uma quase fusão da personalidade das duas personagens, o que leva a uma das cenas mais famosas do filme e que mais carrega a influência surrealista- quando os rostos de Elisabet e Alma se misturam formando um novo rosto. Dentro da linearidade do filme, essa cena pode surpreender, mas ela representa a conclusão sobre a relação das duas personagens. Ao fim do filme, vemos uma película de filme se queimando, o que junto com a cena do começo do filme onde uma criança vê uma imagem em uma tela e a toca, mostra outros dois elementos surrealistas, que desta vez agem de forma metalinguística refletindo sobre a relevância e insignificância do filme- ao mesmo tempo elevando a sua mensagem e minimizando a obra como apenas ficção.


Junção dos rostos de Alma e Elisabet.

  
Cena de abertura de "Persona", cheia de elementos surrealistas.

  “Persona” é um filme que consegue mostrar a influência que tira do surrealismo, usando-o para auxiliar a narrativa- quase sempre coerente- mas sem deixar de surpreender e instigar o espectador com a criatividade de suas cenas surreais.

 Bibi Andersson, Ingmar Bergman e Liv Ullmann durante as gravações do filme.




domingo, 6 de maio de 2018

Cinema de autor


Jean-Luc Godard (esq.) e François Truffaut (dir.).

  A expressão cinema de autor ou de auteur como foi cunhada pelos franceses no final dos anos 40, mais precisamente pelos críticos André Bazin e Roger Leenhardt, define um cinema feito sob o olhar do seu diretor; a expressão de autor significa uma produção artística controlada por um artista só, então o que diferencia o cinema de autor é a falta de interferência de produtores, singularizando a visão do diretor para o filme. Bazin, que foi uma espécie de padrinho de François Truffaut, influenciou a sua visão de cinema- já que ele obteve sua “educação cinematográfica” com Bazin- e fez com que o trabalho como crítico e depois como cineasta de Truffaut valorizasse o cinema de autor; algo que se expandiu para os outros diretores da mesma geração que frequentavam a Cinémathèque de Henri Langlois em Paris: Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Jacques Rivette, entre outros- e queriam fazer cinema como seus ídolos Alfred Hitchcock e Robert Bresson.
 Quando se fala de cinema de autor e desta geração de diretores, não se pode deixar de falar do ano de 1959 e do Festival de Cannes daquele ano. Durante a década de 50, quando Truffaut e Godard eram críticos da revista Cahiers du cinema, eles criticavam duramente o cinema que estava sendo feito na França e o Festival de Cannes, até Truffaut ter seu filme, “Os incompreendidos” como representante da França no Festival de Cannes de 1959. Com o sucesso do filme no festival, foi alardeado que uma nova era no cinema francês começava, Godard falou sobre ter sido uma vitória para os diretores que queriam fazer o cinema de autor: “Nós vencemos o dia (...) Em ter reconhecido que um filme de Hitchcock, por exemplo, como tão importante quanto um livro de (Louis) Aragon. Autores de cinema, graças a nós, finalmente entraram para a história de arte”. François Truffaut também escreveu em êxtase: “Os filmes de amanhã serão feitos por aventureiros, jovens cineastas vão se expressar na primeira pessoa e nos contar sobre as suas experiências. Os filmes de amanhã não serão feitos por funcionários da câmera, mas por artistas que veem o cinema como uma incrível e empolgante aventura.”


Jean-Pierre Léaud, ator principal de "Os incompreendidos"(1959), no Festival de Cannes de 1959.

  Os anos seguintes realmente cumpriram as promessas de Truffaut e Godard, o cinema francês dos anos 60 conhecido como Nouvelle Vague (nova onda) é um marco do cinema de autor. Vários diretores famosos se inspiraram nesse movimento e construíram suas próprias carreiras como autores de cinema, Martin Scorsese e Quentin Tarantino são dois exemplos. O cinema de autor não ficou nos filmes europeus do passado, diretores atuais como Wes Anderson, Paul Thomas Anderson, Woody Allen, Terrence Malick, Todd Haynes, Pedro Almodóvar e Jim Jarmusch possuem características estéticas e narrativas próprias reconhecidas em todos os seus filmes; não se pode falar de Wes Anderson sem que se lembre imediatamente do colorido dos seus filmes ou de Terrence Malick sem pensar na natureza ou ainda de Tarantino sem pensar na violência e nos personagens vingativos.


"Moonrise Kingdom" (2012), de Wes Anderson.

  Apesar de muito festejados, o cinema de autor também sofre críticas, isso é porque o cinema não é feito por uma só pessoa, sempre é fruto de um trabalho coletivo. Desde antes do termo de autor surgir, o diretor já era considerado a figura mais importante do set de filmagens, mas o que se discute e se aponta atualmente é a importância de outros profissionais de um filme para a inspiração do mesmo. Às vezes, o diretor de fotografia ou ator/atriz principal podem ser os grandes responsáveis pelo estilo de um filme.

  Apesar deste texto ser sobre cinema de autor, é preciso mencionar que já existe a expressão “televisão de autor”, o que se deve a uma nova era que a TV americana tem tido na última década; contando com o apoio de vários profissionais do cinema que estão migrando para as telinhas. A série “The Knick” teve 20 episódios todos dirigidos por Steven Soderbergh,  a recente “The Young Pope” surgiu da mente do diretor italiano Paolo Sorrentino, a minissérie “The Night Manager” foi completamente dirigida por Susanne Bier, “True Detectice” teve sua primeira temporada dirigida toda por Cary Joji Fukunaga e a segunda produzida por ele; “House of Cards” e “Narcos” são produzidas por David Fincher  José Padilha respectivamente e apesar de ambas terem tido apenas alguns episódios dirigidos por estes diretores, a marca deles continua em todo o resto da série.
  O cinema de autor é responsável por produzir verdadeiras obras de arte do cinema e por, em determinado momento, ligar a palavra ao cinema. Apesar da atividade cinematográfica ser essencialmente coletiva, um cineasta é capaz de expor sua visão original do mundo em um filme e guiar sua equipe para atingir a estética e narrativa desejadas e fazê-los trabalharem juntos para atingir o produto final. Como um maestro que faz todos os seus instrumentistas tocarem harmonicamente.
   

 


quarta-feira, 4 de abril de 2018

Para atrás das câmeras (Parte 1)

                                                                        Ida Lupino

  Mais frequente do que se imagina, atores se arriscam na direção de filmes. Apesar de algumas pessoas acharem até que o trabalho do diretor não deveria existir, porque cada profissional sabe fazer seu ofício, o trabalho do diretor é como o de um regente- fazendo todos trabalharem em conjunto. Os atores são o rosto de um filme, mas o poder no set de filmagens é do diretor, desta forma, muitos profissionais do cinema de outras áreas sentem a vontade de liderarem seus próprios projetos. 
  No entanto, muitos atores vão para a direção pela falta de opção, quando querem levar um projeto adiante e não encontram diretores interessados em dirigir. Outra razão que leva atores para atrás das câmeras é o carinho por um enredo que eles não querem confiar nas mãos de mais ninguém. Com mais ou menos sucesso, os atores/diretores mostram para um público que já os conhece suas visões cinematográficas. Nesta primeira parte, veremos as histórias de atrizes que foram para atrás das câmeras.

Ida Lupino

                              Ida Lupino durante as gravações de "O Mundo Odeia-Me"(1953).

  A atriz inglesa, descendente de uma dinastia de atores de teatro que vai até o Renascimento, teve um começo precoce em Hollywood, desembarcando nos Estados Unidos ainda adolescente após ter participado de alguns filmes ingleses. Cansada do sistema de estúdios de Hollywood, Lupino abriu sua própria produtora, The Filmakers, com o seu marido de então, Collier Young. A primeira oportunidade de dirigir surgiu por coincidência, quando o diretor do filme no qual ela trabalhava como co-produtora e co-roteirista sofreu um ataque cardíaco, deixando para Lupino a tarefa de terminar o filme. Seus primeiros filmes se dedicavam a retratar problemas sociais, algo incomum na época e que abriu caminho para vários diretores de cinema independente que vieram depois, como John Cassavetes; um desses filmes foi "O Mundo é o Culpado"(1950), sobre os traumas decorrentes de um estupro. Dos 12 filmes lançados sob o selo de sua produtora, Lupino dirigiu 6, mas também ditigiu filmes do estúdio RKO, onde encontrou o apoio de Howard Hughes (o aviador/produtor de cinema interpretado por Leonardo DiCaprio no filme de Martin Scorsese "O Aviador"), com quem havia tido um breve relacionamento quando ainda era uma estrela em ascensão em Hollywood. Lupino era uma das poucas diretoras trabalhando em grandes estúdios em Hollywood na época e se tornou também a primeira mulher a dirigir um filme do gênero noir, coma sua direção de "O Mundo Odeia-Me"(1953).

Liv Ullmann

                       Liv Ullmann e Jessica Chastain, estrela do seu filme "Miss Julie"(2014).

  Liv Ullmann é mais lembrada como sendo um das musas do lendário diretor sueco Ingmar Bergman em seus papéis em filmes como "Persona"(1966), "Gritos e Sussurros"(1972) e "Cenas de um casamento"(1973). Mas Ullmann já conta com cinco filmes dirigidos por ela e algumas peças de teatro. A atriz norueguesa dirigiu seu primeiro filme em 1992, chamado "Sofie", seguido por "Kristin Lavransdatter" (1995), "Enskilda samtal"(1996), "Trolösa"(2000) e o mais recente "Miss Julie"(2014), adaptação da peça de mesmo nome de August Strindberg com Jessica Chastain, Colin Farrell e Samantha Morton no elenco. 


Jodie Foster




  Jodie Foster começou a aparecer em comerciais quando ainda era uma criança pequena, tendo sido a "garota Coppertone" quando tinha apenas três anos. A fama veio na adolescência com seu papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em "Taxi Driver"(1976) de Martin Scorsese aos 14 anos. Foster atuou em outros filmes durante a sua adolescência e após um hiato para se dedicar aos seus estudos universitários conseguiu retomar sua carreira como uma atriz adulta. vencendo dois prêmios Oscar de Melhor Atriz, por "Os Acusados"(1988) e "O Silêncio dos Inocentes"(1991). O primeiro filme que dirigiu foi "Mentes que Brilham"(1991), sobre uma criança prodígio, o filme não foi muito bem recebido pela crítica mas obteve um sucesso moderado nas bilheterias e conseguiu alguns fãs. Seu segundo filme como diretora foi "Feriados em família"(1995), uma comédia de humor negro com Holly Hunter e Robert Downey Jr. Ela só voltou a dirigir em 2011 e a partir desta década passou a focar na direção, o primeiro filme deste novo momento foi "Um Novo Despertar", que estreou no Festival de Cannes e teve Mel Gibson no elenco, o filme retratava um homem depressivo que desenvolve uma nova personalidade baseada em uma marionete de castor. Seu próximo e mais recente filme foi "Jogo do Dinheiro" (2016), também exibido no Festival de Cannes, com George Clooney e Julia Roberts no elenco. Foster também tem trabalhado na TV, dirigindo episódios de "Orange is the New Black", "House of Cards" e "Black Mirror".

Angelina Jolie



  Uma das atrizes mais famosas de nossa época, Angelina Jolie passou a se dedicar à direção nos últimos anos após uma bem-sucedida carreira como em filmes de ação e de drama. Sua estreia na direção foi com o filme "Na Terra de Amor e Ódio"(2011) sobre a guerra na Bósnia, que já traça os assuntos de interesse de Jolie como diretora- filmes de guerra e histórias verídicas. Seu filme seguinte seria "Invencível"(2014) sobre o atleta olímpico e prisioneiro de guerra Louis Zamperini, esse filme foi bem-sucedido na bilheteria, diferente de sua estreia como diretora. O próximo musaria de tema, falando sobre um casal e contando com o seu então marido Brad Pitt interpretando o seu marido na ficção. Sua produção mais recente foi "First They Killed My Father", lançado pela Netflix no ano passado; nele, Jolie se juntou à ativista cambojana Loung Ung para adaptar o livro de memórias da autora que versa sobre a sua experiência durante o regime de Pol Pot.

Greta Gerwig




  Uma das estreias mais bem-sucedidas de um diretor nos últimos anos, junto à de Jordan Peele na direção de "Corra!"(2017), Gerwig deixou de ser reconhecida apenas como a atriz de filmes independentes e agora é uma diretora indicada ao Oscar com "Lady Bird"(2017). Gerwig já havia coescrito e coproduzido alguns dos filmes que estrelou antes, mas realizou todo o seu esforço na produção de uma obra própria com "Lady Bird", que ela escreveu além de ter dirigido. 

domingo, 4 de março de 2018

Histórias do Oscar

Lado de fora do Teatro Pantages, onde ocorreu a 31ª cerimônia do Oscar em 1959.
Atualmente o Oscar acontece todo ano no Teatro Dolby.



  Neste fim de semana, acontecerá mais uma cerimônia do Oscar. Os prêmios da academia- como é chamado oficialmente- teve a sua primeira cerimônia no ano de 1929, onde 15 prêmios foram entregues. O melhor ator foi Emil Jannings- que recebeu o prêmio antes da cerimônia porque estaria na Europa na data marcada, o que o torna o primeiro vencedor do Oscar de todos- a melhor atriz foi Janet Gaynor e o melhor filme foi "Wings", com duração de 15 minutos- mesmo tempo de duração da cerimônia. Na época os atores não eram premiados por um trabalho, mas pelo conjunto de trabalhos realizados naquele ano. Os vencedores só foram anunciados três meses mais tarde e no ano seguinte a cerimônia foi transmitida pela primeira vez- por rádio- e os vencedores começaram a ser dados à imprensa às 23 horas. O Oscar foi transmitido pela primeira vez na televisão no ano de 1953 e mais categorias foram introduzidas durante os anos, como melhor ator e atriz coadjuvante, melhor filme estrangeiro e melhor animação.

  A origem do nome Oscar não é exata, uma história diz que Bette Davis comparou a estatueta com o seu ex-marido que se chamava Oscar, e outra diz que a diretora executiva da Academia na época, Margaret Herrick, comparou a estatueta com um tio seu. De um jeito ou de outro, o nome pegou rapidamente e em 1939 Oscar passou a ser o nome oficial da estatueta, enquanto a cerimônia continuou a ser chamada oficialmente de Prêmios da Academia, apesar de ser popularmente referida como cerimônia do Oscar.
  
Walt Disney


  
  Walt Disney é até hoje a pessoa com mais indicações e prêmios Oscar. São 26 vitórias de um total de 59 indicações, incluindo o primeiro prêmio da categoria Melhor Curta Animado e um prêmio honorário por "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937)- primeiro longa-metragem animado- que consistia de uma estatueta em tamanha normal e sete em miniatura. 
  
Shirley Temple


  Em 1935, a estrela mirim Shirley Temple foi a primeira recipiente de uma categoria chamada Oscar Juvenil, cujo prêmio era uma estatueta em tamanho menor: 7 cm. Temple tinha seis anos e foi reconhecida pelos filmes que fez no ano de 1934. A última homenageada nesta categoria foi Hayley Mills em 1960; a partir de 1962, atores jovens passaram a ser indicados na mesma categorias dos demais atores após a vitória de Patty Duke do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo seu trabalho em "O Milagre de Anne Sullivan" com apenas 16 anos, ela foi então a vencedora mais jovem do prêmio. Duke foi superada por Tatum O'Neal, a atriz filha do também ator Ryan O'Neal venceu na mesma categoria de Duke em 1974 com dez anos de idade, pelo filme "Lua de Papel" (1973). Além das duas, a única outra menor de idade a vencer um Oscar foi Anna Paquin em 1994, aos 11 anos de idade pelo seu papel no filme "O Piano" (1993). 

Christopher Plummer 


  No extremo oposto, Christopher Plummer é a pessoa mais velha tanto a ser indicada quanto a vencer um Oscar, tendo vencido como Melhor Ator Coadjuvante em "Toda Forma de Amor" (2011)  em 2012 aos 82 anos. No seu discurso, ele disse (olhando para a estatueta): "Você só é dois anos mais velha do que eu, querida. Onde esteve durante toda a minha vida?" A sua indicação este ano ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por "Todo o Dinheiro do Mundo"(2017) o torna o mais velho indicado a um Oscar aos 88 anos de idade.



Hattie McDaniel e Sidney Poitier


  Hattie McDaniel foi a primeira pessoa negra a vencer uma Oscar quando venceu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em 1940 pelo seu trabalho em "...E o Vento Levou" (1939). Apesar da honraria, McDaniel não pode se sentar na mesma mesa que os seus colegas de elenco, ficando em uma mesa separada com o seu acompanhante e seu agente, um branco. O hotel onde a cerimônia foi realizada naquele ano tinha uma política de não aceitar negros, mas abriu uma exceção para McDaniel naquela ocasião. Após a morte de McDaniel em 1952, o seu Oscar foi perdido nos anos 60 e até hoje não se sabe o seu paradeiro. "..E o Vento Levou" ainda é o filme mais longo a ser premiado na categoria Melhor Filme, com 221 minutos de duração.


  24 anos depois, um ator negro voltou a ser premiado no Oscar, Sidney Poitier venceu o Oscar de Melhor Ator por "Uma Voz nas Sombras" (1963), também se tornando a primeira pessoa negra a vencer nesta categoria. Os tempos eram outros e a vitória de Poitier teve um novo significado, não interpretando um escravo e nos tempos do Movimento  dos Direitos Civis, o Oscar de Poitier foi muito mais um presságio para mudanças do que o prêmio de McDaniel, apesar de igualmente emocionante.



Audrey Hepburn


  Audrey Hepburn foi a vencedora do Oscar de Melhor Atriz no ano de 1954. Hepburn tinha 24 anos e havia vencido o prêmio pela sua atuação em "A Princesa e o Plebeu" (1953)- seu primeiro filme de destaque. O estrelato da atriz belga começava e sua aparição da cerimônia foi uma amostra do seu charme e elegância, que marcariam o público durante as próximas décadas e a faz ser lembrada hoje como uma das maiores estrelas do cinema de todos os tempos. 



Os apressados


Gloria Grahame vencendo o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1953.

  Quando Gloria Grahame venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante na primeira cerimônia televisada do Oscar, seu discurso constituiu de 4 palavras: "Thank you very much." (Muito obrigada). E esse nem foi o discurso mais curto da história do Oscar. Patty Duke, além de ter tido o recorde de pessoa mais jovem a vencer o prêmio por dez anos, ainda tem o discurso mais curto do Oscar, duas palavras: "Thank you." (Obrigada). Outros vencedores que economizaram palavras foram: Joe Pesci- "It's my privilege. Thank you." (É um privilégio. Obrigado.) Alfred Hitchcock quando venceu um prêmio honorário dizendo: "Thank you." Após uma pausa, "Very much indeed." (Muito obrigado. De verdade.) Além de William Holden que disse "thank you" duas vezes em algo que dificilmente pode ser considerado um "discurso" já que ele não falou no microfone. Em contraponto, Greer Garson fez o discurso mais longo ao receber o Oscar de Melhor Atriz em 1943, o qual durou quase seis minutos, fazendo a Academia passar a limitar a duração dos discursos dos vencedores. 




Marlon Brando


  Marlon Brando é um dos poucos atores a vencer o prêmio de Melhor Ator mais de uma vez e um dos poucos vencedores do Oscar a recusar o prêmio. Quando Brando venceu pela segunda vez em 1973 pelo seu icônico papel em "O Poderoso Chefão" (1972), ele não foi à entrega dos prêmios, mas mandou uma representante- a ativista Sacheen Littlefeather- para anunciar a sua recusa e a razão de sua escolha como sendo a má representação dos indígenas americanos no cinema. Com vaias e aplausos, esse foi um dos momentos mais marcantes da história do Oscar. 

Empate


  Já aconteceram seis empates na história do Oscar, sendo os mais notáveis o da categoria de Melhor Ator no ano de 1932 entre Fredric March por "O Médico e o Monstro"(1931) e Wallace Beery por "O Campeão"(1931), e o de 1969 no prêmio de melhor atriz em que Katharine Hepburn e Barbra Streisand dividiram o prêmio pelas suas performances em "O Leão do Inverno"(1968) e "Funny Girl"(1968) respectivamente. 



Charlie Chaplin



  Apesar de todo o prestígio como um dos maiores astros do cinema e da comédia de todos os tempos, Charlie Chaplin nunca venceu um Oscar pelos seus filmes. Mas a Academia não iria deixar de homenagear um dos maiores nomes da história do cinema e em 1972 Chaplin vence um prêmio honorário pela sua contribuição ao cinema. Um dos momentos mais emocionantes do Oscar.


Christopher Reeve


  Outro momento do Oscar que rendeu lágrimas foi a aparição de Christopher Reeves em 1996, o ator que ficou conhecido por interpretar o Superman havia ficado tetraplégico no ano anterior após uma queda de cavalo. Seu discurso na cerimônia mostrou um lado leve do ator que contradiz a tragédia pela qual ele havia passado.



Roberto Benigni


  Com um surpreendente triunfo para um filme estrangeiro, "A Vida é Bela" deu a Roberto Benigni duas estatuetas na cerimônia de 1999, a de Melhor Ator e de Melhor Filme Estrangeiro. O comediante italiano não se acanhou em mostrar a sua felicidade com o êxito do filme dirigido e estrelado por ele.


As acumuladoras


  Antes de Meryl Streep se tornar a rainha do Oscar, ela teve que superar as 12 indicações que Katharine Hepburn recebeu que a deram o recorde de maior número de indicações para um ator ou atriz por vários anos. Hepburn ainda é a pessoa com mais prêmios nas categorias de atuação- quatro, todos de Melhor Atriz-. Ela, porém, nunca compareceu à entrega para recebê-los e só foi ao Oscar uma vez para entregar um prêmio honorário no ano de 1974. Streep, como a maioria sabe, é hoje a atriz com mais indicações, sendo a recebida por ela este ano a sua 21ª; venceu três vezes, duas vezes como Melhor Atriz e uma como Melhor Atriz Coadjuvante.