segunda-feira, 20 de março de 2017

O que torna um filme ruim


  Em todas as formas de arte existe um problema: "é tudo subjetivo". Bem, não é. As opiniões são subjetivas e elas podem variar bruscamente, mas existem critérios que definem qualidade. Um roteiro, direção ou atuação podem levar a um consenso de serem ruins. Alguns filmes fazem grande sucesso de bilheteria e são até admirado por alguns espectadores apesar de receberem críticas muito negativas e serem odiados por outra parte do público.
  Eu acredito que, uma vez que você viu um filme muito bom, um merecedor de nota máxima, ele te estraga para os outros filmes. Às vezes você é capaz de perceber alguns elementos em um filme que te agradariam antes, mas agora que você consegue observar mais profundamente, os problemas surgem. 
  Uma falha que quase todos os filmes ruins têm em comum é o roteiro. É difícil escrever um bom roteiro, mesmo com uma história boa e personagens bons, um roteiro pode cair em incongruências e utilizar estratégias narrativas ineficientes. Outra parte do filme que pode torná-lo ótimo ou péssimo é a edição (também chamada de montagem), fazer a edição de um filme é um trabalho pesado, o montador precisa trabalha com horas e horas de filmagem e compilá-las em duas horas. A montadora de "Mad Max: Estrada da Fúria" Margaret Sixel disse ter tido 450 horas de filmagens para resumir nas duas horas que a versão final teve. Uma edição mal feita torna um filme longo demais e prolixo ou brusco- passando de uma cena para a outra sem sutileza e causando dificuldade em entender a trama. Uma prova do quanto a edição é importante está no fato dos filmes da DC lançados no ano passado e massacrados pela crítica terem disponibilizado versões estendidas após o fracasso com os críticos. "Esquadrão Suicida" sofreu muito em seu processo de edição: passou pelas mãos de vários montadores, cada um com uma ideia diferente de como o filme deveria ser, o estúdio se sobrepôs à visão do diretor, David Ayer, e o filme acabou sendo editado por uma empresa que editava trailers- e não filmes completos- pois a DC concluiu que o filme deveria ser mais leve, após uma das críticas frequentes a "Batman vs. Superman" ter sido o tom sombrio do filme.


   "Batman vs. Superman", assim como "Esquadrão Suicida", causou um rebuliço assim que chegou às salas de cinema; houveram fãs que amaram, fãs que odiaram e críticas efusivamente negativas. Os mais devotos admiradores da DC pediram boicote do site Rotten Tomates- que agrega críticas especializadas- após a avaliação de apenas 27% de críticas positivas; e os que não gostaram do filme também lançaram um abaixo assinado para tirar o diretor Zack Snyder da direção dos filmes do Super Homem. Concentrando nos problemas de "BvS", é um filme que começa seguindo vertentes demais, não consegue ligar os pontos da sua história, culminando em um desenvolvimento confuso e um final pesado nos efeitos visuais e clichês do gênero, é torturantemente demasiadamente longo no seu esforço de juntar informações demais que não fazem sentido. 
  Outro filme que obteve críticas destacadamente negativas nos últimos anos foi "Cinquenta Tons de Cinza" (2015); fora a elogiadíssima trilha sonora, quase todos os elementos do filme foram considerados ruins. O desenvolvimento dos personagens, os diálogos pouco inspirados e o fato da história ter sido amplamente considerada uma glamourização de um relacionamento abusivo foram algumas das críticas. A personalidade de stalker de Christian Grey e as críticas negativas se repetiram na continuação "Cinquenta Tons Mais Escuros" (2017); mas como se pode concluir assistindo "Batman vs. Superman", quando a introdução é ruim, o desenvolvimento é pior, o segundo filme baseado nos livros pornográficos tem um enredo ainda mais idiota e carregado de melodramas muito pobres em qualidade e originalidade.  


  Desta forma, dá para perceber que um conjunto de fatores torna um filme ruim, além da qualidade técnica, deslizes de um filme em seu enredo como conclusões e motivações equívocas são um exemplo. Logo, fazer a crítica de um filme não fica no preto e branco (há vários tons de cinza) e nem divide filmes entre obras de arte e lixo. Um filme que eu assisti no ano passado ficou na minha mente, à primeira vista o filme parecia ser bom, era capaz de entreter o espectador, mas algumas partes causavam estranhamento- o primeiro sinal de que algo em um filme não está bom, quando você não consegue realmente dirigir uma passagem. O filme é "Cloclô" (2012), cinebiografia francesa do cantor Claude François, o verdadeiro autor de "My Way", pois esta é inspirada na versão original francesa "Comme d'Habitude", assinada por François. 
  Cinebiografia é um gênero complicado, poucos exemplos deste tipo de filme são realmente bons, assistir à vida de uma pessoa em duas horas muitas vezes vai significar uma representação apressada e com dramas mal feitos da vida de uma pessoa. Representar uma figura de destaque é mais proveitoso se uma determinada passagem da vida desta pessoa for escolhida como tema, "Jackie" (2016) e "Sete Dias com Marilyn" (2012) utilizaram desta estratégia. "Cloclô" apressa em determinados momentos, alonga em outros, tem partes desnecessárias (um dos erros da maioria das cinebiografias é querer contar todos os detalhes da vida do biografado) e suaviza partes problemáticas da vida de François, como seu ciúme obsessivo e romantizando uma cena em que ele persegue uma moça que rejeitava suas investidas até pará-la batendo no carro dela. As biografias não devem ser sempre lisonjeiras com os seus biografados, outro personagem real com ciúme obsessivo é o boxeador Jake LaMotta, retratado em "Touro Indomável" (1980) (não só uma das melhores cinebiografias, um dos melhores filmes já feitos). Os problemas de LaMotta são mostrados como destrutivos e a razão do fim do seu casamento, enquanto em "Cloclô", o fato de François ser um péssimo parceiro nem é mostrado como justificativa para o fim dos seus relacionamentos.


  Apesar de tudo, todo mundo deve se sentir livre para ter seus gostos, às vezes pode ser difícil manter uma opinião quando a maioria das pessoas pensa diferente e expressa isso entusiasticamente nas redes sociais. Parte da construção de um pensamento crítico é reconhecer como seus gostos afetam a sua opinião e não ter vergonha disso. Nós assistimos filmes para nos trazer diversão e contemplação e alguns filmes falham em nos proporcionar isto ou não o fazem da melhor forma; é decepcionante, mas como em tudo na vida, se algo não está certo, não adianta ignorar.

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